EuroCTO: segurança e benefícios em 3 anos

As oclusões totais crônicas (CTO) afetam entre 15% e 20% dos pacientes com doença coronariana estável. O tratamento nesse campo tem experimentado consideráveis avanços, o que tem levado a uma melhora na taxa de sucesso dos procedimentos. De acordo com registros e estudos randomizados, a principal indicação para a intervenção percutânea (PCI) das CTO deveria se basear mais no sintomas clínicos do que no prognóstico da doença crônica. 

EuroCTO: seguridad y beneficios a los 3 años

A primeira fase do estudo EuroCTO demonstrou o benefício da PCI na melhora sintomática da angina em comparação com o tratamento médico ótimo (TMO), com uma segurança similar em um ano. Contudo, ainda não existem dados válidos sobre a segurança a longo prazo da PCI para as CTO. O desenho do EuroCTO incluiu um período de seguimento de 3 anos, embora não tenha tido o poder suficiente para detectar diferenças em termos de mortalidade. Porém, somando-se o conhecimento proporcionado por outros ensaios randomizados atuais e futuros, espera-se obter dados sobre a segurança da PCI para as CTOs em um intervalo de tempo mais prolongado. 

No estudo os pacientes foram tratados de acordo com a randomização: um grupo com uma CTO em uma única artéria (48,5%) e outro com doença multivaso (51,5%) foram incluídos depois de ao menos 4 semanas a partir da finalização do tratamento de qualquer outra lesão significativa, não CTO. O sucesso angiográfico foi definido como uma estenose residual < 20% e um fluxo TIMI 3 posterior ao implante do stent eluidor de drogas (DES). 

O principal desfecho de segurança (DP) foi a incidência de morte cardiovascular ou infarto do miocárdio (IAM) não fatal durante o seguimento de 3 anos. Os desfechos secundários (DS) incluíram modificações na classificação da CCS (angina), MACE, trombose do stent, eventos vasculares cerebrais e hospitalização por motivos cardíacos. 

Leia também: Efetividade dos distintos dispositivos para o tratamento de lesões femoropoplíteas: análise do registro K-VIS ELLA.

O estudo incluiu 396 pacientes, com um período de seguimento de 3 anos. A randomização foi 2:1 para receber PCI e TMO (n = 259) ou somente TMO (n = 137). A recanalização foi tentada em 254 pacientes do grupo PCI, sendo bem-sucedida na primeira tentativa em 83,1% dos casos, com tentativas adicionais em 19 pacientes (taxa de sucesso final de 86,6%). Observou-se 2,9% de complicações hospitalares, que incluíram tamponamento pericárdico (n = 4), reparação cirúrgica vascular (n = 2) e necessidade de transfusão sanguínea (n = 5). Não houve mortes periprocedimento nem cirurgia de revascularização miocárdica de emergência. 

A angina segundo a CCS e a CF da NYHA melhoraram em 12 meses, especialmente no grupo de PCI. Na primeira etapa do trabalho, observou-se 81,8% de pacientes com CCS < 2 em comparação com 65,7% (p < 0,001) em 12 meses, e 75,8% vs. 53,3% (p < 0,001) na classificação NYHA < 2. O número de medicamentos antianginosos foi significativamente menor no grupo de PCI (1,4 vs. 1,9; p < 0,005).

Durante um seguimento de 37,4 ± 7,7 meses não foram observadas diferenças significativas em termos de mortalidade cardiovascular ou de IAM não fatal, com uma taxa de 3,7% no grupo de TMO de 6,2 no grupo de PCI (log-rank p = 0,29). Ao realizar a análise por protocolo, registraram-se eventos em 5,7% dos pacientes no grupo TMO e 4,7% no grupo de PCI (p = 0,67). A taxa de IAM espontâneo foi de 2,3% no seguimento (PCI) e de 1,5% no grupo de TMO. 

Leia também: Resultados de 3 anos do SCOPE I: ACURATE Neo vs. SAPIEN 3.

A taxa de MACE foi significativamente maior no grupo de TMO, com 21,2% vs. 11,2% no grupo de PCI, segundo a análise por ITT (p = 0,008), diferença guiada pela revascularização por isquemia. Observou-se uma taxa de recorrência de 3,5%, com a necessidade de outra PCI durante o seguimento. 

Em pacientes tratados com PCI, a incidência do DP foi de 3,6% em comparação com 12,2% do ocorrido com os pacientes com revascularização malsucedida (p = 0,03) e de 5,7% no grupo com TMO durante o seguimento. 

Ao avaliar os MACE, observou-se 8,6% em comparação com 15,2% dos pacientes com revascularização percutânea malsucedida e 22,9% nos pacientes com TMO. 

Conclusões

O estudo EuroCTO demonstrou a segurança do método com altos níveis de sucesso do procedimento e uma melhora significativa em termos de MACE. Embora não se tenha conseguido diminuir a mortalidade (já que o desenho do estudo não visava especificamente a esse propósito), foi possível reduzir a angina e a quantidade de medicação necessária para seu tratamento, o que resultou em um impacto muito positivo na qualidade de vida dos pacientes. 

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título original: Three-year outcomes of EuroCTO (A Randomized Multicentre Trial Comparing  Revascularization and Optimal Medical Therapy for Chronic Total Coronary Occlusions). 

Referência: Werner GS, Hildick-Smith D, Martin Yuste V, Boudou N, Sianos G, Gelev V, Rumoroso  JR, Erglis A, Christiansen EH, Escaned J, di Mario C, Teruel L, Bufe A, Lauer B, Galassi AR,  Louvard Y. Three-year outcomes of EuroCTO (A Randomized Multicentre Trial Comparing  Revascularization and Optimal Medical Therapy for Chronic Total Coronary Occlusions).  EuroIntervention. 2023 Jul 21:EIJ-D-23-00312. doi: 10.4244/EIJ-D-23-00312. Epub ahead of  print. PMID: 37482940. 


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