Desfechos contemporâneos da intervenção das CTO na Europa: registro ERCTO

Aproximadamente 20% das coronariografias evidenciam alguma forma de oclusão crônica total (CTO), cifra que se duplica em pacientes diabéticos ou com insuficiência cardíaca e deterioração da fração de ejeção (FEJ). O campo do intervencionismo em CTO tem experimentado um crescimento significativo graças a melhoras na técnica e no material dedicado para seu manejo. Entretando, um número considerável dos pacientes afetados pode enfrentar complicações inerentes ao procedimento, tais como perfurações de ramos colaterais ou dificuldades relacionadas com o acesso vascular, especialmente ao optar por uma abordagem dupla.

Disnea y oclusiones totales crónicas: un síntoma que podemos aliviar (o al menos intentarlo)

O propósito deste estudo é informar sobre o sucesso técnico e a incidência de complicações segundo o Registro Contemporâneo Europeu de CTO (ERCTO). 

Foram reunidos dados de 8673 angioplastias (PCI) de CTO realizadas desde janeiro de 2021 até outubro de 2022. Os desfechos foram estratificados de acordo com o volume de procedimentos dos operadores: alto volume e volume médio. A seleção de pacientes para PCI se baseou em sintomas, viabilidade e isquemia induzida. No caso dos pacientes assintomáticos, foram incluídos apenas aqueles com isquemia de alto grau ou deterioração da FEJ com presença de viabilidade. 

A coronária direita foi o principal vaso alvo (55,9%), seguida da descendente anterior (26,4%) e da circunflexa (14,9%). O escore J-CTO médio foi de 2,2 ± 1,3, com um comprimento médio da lesão de 27,1 ± 16,9 mm. Em 73% dos casos foi utilizada a via anterógrada, ao passo que nos 27% restantes optou-se pela retrógrada. Em relação à abordagem anterógrada, a técnica de dissecção e reentrada (ADR) foi empregada em 6% dos casos, ao passo que no tocante à abordagem retrógrada, a técnica de dissecção e reentrada (RDR) foi utilizada em 44% dos casos. 

Leia também: Devemos tratar a doença coronariana no TAVI?

O sucesso técnico (definido como estenose residual < 30% com fluxo TIMI III) médio foi de 89,1% e foi significativamente maior na abordagem anterógrada (92,8% vs. 79,3%; p < 0,001). O acesso duplo foi empregado em 75,8% dos casos, sendo a combinação transradial e transfemoral a mais comum (33,9%), seguida da dupla transradial (25,8%). No que se refere às bifurcações (26,1% dos casos), a estratégia predominante foi o uso de um único stent, que ocorreu em 82% dos casos. 

Na comparação de estratégias, o acesso retrógrado apresentou inicialmente um maior J-CTO, maior comprimento de stent utilizado (65,8 ± 44,6 mm vs. 54,5 ± 34,1 mm; p < 0,001), maior tempo de procedimento (140 min [IQR 106,8-180,0] vs. 70 min [IQR 49-103]; p < 0,001) e maior necessidade de contraste (250 ml [IQR 180-350] vs. 180 ml [IQR 120-250]; p < 0,001).

O uso de microcateteres foi elevado, empregando-se em 98% dos procedimentos, sendo os guias Gaia os que apresentaram o melhor índice de cruzamento. Foram relatadas 1606 lesões severamente calcificadas, e em 24% delas foi utilizado um dispositivo modificador de placa (Rotablator em 75% dos casos). 

Leia também: É possível realizar simultaneamente a oclusão do apêndice atrial esquerdo e outra intervenção cardíaca percutânea?

Os eventos cardiovasculares e cerebrovasculares maiores (MACCE) ocorreram em 1,7% dos casos, sendo as perfurações coronarianas o evento mais frequente (3,8% dos procedimentos), seguidas de tamponamentos (0,7%), infartos periprocedimento (0,5%) e mortes (0,3%).

Ao comparar as estratégias, a abordagem retrógrada mostrou níveis elevados de MACCE (3,1% vs. 1,2%; p = 0,018), índice de perfuração (8,3% vs. 2,1%; p < 0,001) e maiores complicações vasculares (1,5% vs. 0,5%; p < 0,001). 

Em uma regressão logística, foram identificados como fatores de risco independente de MACCE periprocedimento a abordagem retrógrada (OR 1,89, 95% CI: 1,23-2,83; p = 0,003), o sexo feminino (OR 1,89, 95% CI: 1,23-2,83; p = 0,003), a idade e o volume de procedimentos médio (OR 1,49, 95% CI: 1,01-2,19; p = 0,041). A abordagem radial foi identificada como um fator “protetor”, com um risco reduzido de eventos (OR 0,69, 95% CI: 0,47-1,00; p = 0,049).

Conclusões

Os resultados deste registro sugerem uma melhora técnica notável e relevante nesta coorte, com melhores sucessos técnicos e menor volume de MACCE em operadores com um alto volume de procedimentos. A disponibilidade de dispositivos especializados para a patologia aqui abordada poderia contribuir para o sucesso técnico observado. 

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Contemporary outcomes of chronic total occlusion percutaneous coronary intervention in Europe: the ERCTO registry.

Referência: Vadalà, G., Galassi, A. R., Werner, G. S., Sianos, G., Boudou, N., Garbo, R., Maniscalco, L., Bufe, A., Avran, A., Gasparini, G. L., La Scala, E., Ladwiniec, A., Saghatelyan, M., Goktekin, O., Gorgulu, S., Reifart, N., Agostoni, P., Rathore, S., Ayoub, M., … on behalf of the EURO CTO investigators. (2024). Contemporary outcomes of chronic total occlusion percutaneous coronary intervention in Europe: the ERCTO registry. EuroIntervention: Journal of EuroPCR in Collaboration with the Working Group on Interventional Cardiology of the European Society of Cardiology, 20(3), e185–e197. https://doi.org/10.4244/eij-d-23-00490.


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