Existe, na atualidade, evidência proveniente de estudos e metanálises que demonstraram os benefícios da revascularização completa em comparação com a revascularização isolada do vaso culpado em pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM). A determinação e o tratamento das lesões não culpadas podem ser guiados por angiografia convencional, por imagens intracoronarianas ou por fisiologia coronariana, embora a modalidade ótima ainda não esteja definida.
O índice de fluxo quantitativo (QFR) representa uma evolução funcional derivada da angiografia, sem necessidade de guia coronariana. Diversos estudos avaliaram dita ferramenta, entre eles o FAVOR III (Functional Assessment by Virtual Online Reconstruction), que demonstrou que a revascularização baseada em QFR reduz os eventos cardiovasculares maiores. O papel do QFR no tratamento de lesões não culpadas em pacientes com IAM continua sendo, no entanto, incerto.
O objetivo deste estudo multicêntrico e randomizado foi investigar a capacidade preditiva do QFR para eventos adversos e avaliar a não inferioridade de guiar com QFR para realizar o tratamento de lesões não culpadas.
O desfecho primário (DP) foi uma combinação de morte cardíaca, IAM do vaso tratado (TVMI) e revascularização do vaso tratado guiada por isquemia (id-TVR). O desfecho secundário (DS) incluiu os componentes individuais do DP.
O estudo FIRE (Functional Assessment in Elderly MI Patients With Multivessel Disease) randomizou 1145 pacientes com IAM em dois grupos: revascularização do vaso culpado unicamente (n = 725) e revascularização completa guiada por fisiologia (n = 720). A média de idade dos participantes foi de 81 anos e a maioria eram homens. A forma de apresentação clínica mais frequente foi o IAM sem elevação do segmento ST (aproximadamente 60%), seguida de IAM com elevação do segmento ST.
O vaso mais afetado foi a artéria descendente anterior, seguido da coronária direita, da circunflexa e do tronco da coronária esquerda. o QFR foi medido em 903 vasos não culpados de 685 pacientes no grupo de unicamente culpados. Em total, 366 (40,5%) dos vasos não culpados mostraram um valor de QFR ≤ 0,80, com uma incidência significativamente maior do DP (22,1% vs. 7,1%; p < 0,001).
O QFR ≤ 0,80 se estabeleceu como um preditor independente do DP (HR: 2,79; IC de 95%: 1,64-4,75). No grupo de revascularização completa, o QFR foi utilizado em 320 (35,2%) vasos não culpados para guiar a revascularização. Não foram observadas diferenças significativas no DP ao comparar os tratamentos dos vasos não culpados guiados por avaliação funcional baseada em QFR (HR: 0,57; IC de 95%: 0,28-1,15).
Conclusão
Este estudo demostrou que o QFR pode ser utilizado de forma segura para discriminar as lesões não culpadas que requerem revascularização em pacientes com IAM e com doença de múltiplos vasos.
Dr. Andrés Rodríguez.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: QFR for the Revascularization of Nonculprit Vessels in MI Patients Insights From the FIRE Trial.
Referência: Andrea Erriquez, MD et al J Am Coll Cardiol Intv 2024.
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