O implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) revolucionou o tratamento de pacientes com estenose aórtica severa (EAo). Estudos randomizados demonstraram os benefícios do TAVI em pacientes com contraindicação para cirurgia, bem como naqueles que apresentam risco alto e intermediário.
O estudo NOTION (Nordic Aortic Valve Intervention Trial) randomizou pacientes com EAo severa de baixo risco a TAVI e cirurgia de substituição valvar aórtica (SAVR). Os resultados mostraram que não houve diferenças significativas em termos de mortalidade, acidente vascular cerebral ou infarto agudo do miocárdio (IAM) até 8 anos depois da intervenção.
Outros estudos com pacientes de baixo risco, o PARTNER 3 e o EVOLUTE Low Risk, com seguimentos de 5 e 4 anos, respectivamente, tampouco demonstraram diferenças significativas entre TAVI e SAVR em termos de mortalidade por todas as causas e AVC incapacitantes.
O objetivo deste estudo multicêntrico e randomizado foi analisar os resultados clínicos e da prótese depois de 10 anos de seguimento.
O desfecho primário (DP) foi uma combinação de morte por todas as causas, AVC ou IAM. Outras variáveis clínicas analisadas incluíram acidente isquêmico transitório (AIT), fibrilação atrial (FA) de novo, novo implante de marca-passo e endocardite. A durabilidade das biopróteses foi classificada como falha da bioprótese (BFV), definida como morte relacionada com a válvula, deterioração hemodinâmica estrutural severa ou reintervenção; e disfunção da bioprótese (BVD), classificada como deterioração estrutural (SVD), disfunção não estrutural da válvula (NSVD), trombose clínica da válvula ou endocardite.
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Foram incluídos 280 pacientes, dentre os quais 145 foram randomizados a TAVI e 135 a SAVR. A idade média foi de 79,1 ± 4,8 anos, sendo 47% da população constituída por mulheres. O escore médio de STS foi de 3,0 ± 1,7%. Em 10 anos, o risco de DP foi de 65,5% para ambos os grupos (HR 1,0; IC de 95%: 0,7-1,3; p = 0,9), sem diferenças significativas nos componentes individuais do DP.
A SVD severa (gradiente transprotético médio ≥ 30 mmHg, o incremento ≥ 20 mmHg em 3 meses ou nova regurgitação protética severa) ocorreu em 1,5% dos pacientes do grupo TAVI e em 10% do grupo SAVR (HR 0,2; IC de 95%: 0,04-0,7; p = 0,02). A incidência acumulada de NSVD severa foi de 20,5% e de 43,0% (p < 0,001), ao passo que a endocardite foi de 7,2% e de 7,4% (p = 1,0) depois do TAVI e SAVR, respectivamente.
Não houve eventos de trombose da válvula. A BVF ocorreu em 9,7% dos pacientes do grupo TAVI vs. 13,8% dos pacientes do grupo SAVR (HR 0,7; IC de 95%: 0,4-1,5; p = 0,4). Os pacientes do grupo SAVR apresentaram uma maior taxa de FA de novo (p < 0,01), ao passo que os pacientes do grupo TAVI apresentaram uma maior necessidade de implante de marca-passo (p < 0,01).
Conclusão
Ao término de 10 anos de seguimento do estudo NOTION, não houve diferenças significativas entre TAVI e SAVR no tocante ao DP. O risco de SVD severa foi menor depois do TAVI em comparação com a SAVR, ao passo que o risco de BVR foi similar entre os dois grupos.
Dr. Andrés Rodríguez.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Transcatheter or surgical aortic valve implantation: 10-year outcomes of the NOTION trial.
Referência: Hans Gustav Hørsted Thyregod et al European Heart Journal (2024) 00, 1–9.
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