Devemos suspender a anticoagulação antes do TAVI?

Aproximadamente um terço dos pacientes que são submetidos a TAVI apresentam fibrilação atrial e estão sob tratamento com anticoagulantes orais (ACO). Isso cria um cenário complexo para o manejo clínico, já que é necessário evitar tanto os sangramentos quanto os eventos embólicos. 

Atualmente não existem estudos relevantes que tenham avaliado em profundidade dito cenário. 

O estudo POPular PAUSE TAVI incluiu 858 pacientes que foram submetidos a TAVI e estavam sob tratamento com anticoagulantes. Dentre eles, 431 continuaram com a anticoagulação (ACO+) e o restante teve o tratamento suspenso (ACO-). 

O desfecho primário do estudo foi uma combinação que incluía morte cardiovascular, AVC, infarto do miocárdio, complicações vasculares maiores ou sangramentos importantes em 30 dias. 

Os grupos foram similares: a idade média foi de 80 anos, aproximadamente um terço da população esteve constituída por mulheres e o EuroSCORE médio foi de 3,8. Todos os pacientes estavam sintomáticos, 96% apresentavam fibrilação atrial, o escore CHA2DS2-VASc médio foi de 4,6, 79% tinham hipertensão, 30% diabetes, 48% doença coronariana, 33% tinham sido submetidos a uma cirurgia de revascularização miocárdica (CRM), 15% tinham tido um infarto, 11% um AVC, 10% um acidente isquêmico transitório (AIT), 50% apresentavam deterioração da função renal, 18% tinham um marca-passo prévio e 7% foram casos de TAVI em TAVI (V-in-V). 

Leia também: Fibrilação atrial de recente diagnóstico em pacientes com síndrome coronariana aguda: resultados do registro FORCE-ACS.

Não foram constatadas diferenças significativas em termos de desfecho primário entre os dois grupos, com uma incidência de 16,5% no grupo ACO+ e de 14,8% no grupo ACO- (diferença de risco de 1,7 pontos percentuais; intervalo de confiança [IC] de 95%, −3,1 a 6,6; p = 0,18 para não inferioridade). Tampouco foram observadas diferenças nos seguintes eventos: morte cardiovascular (2,1% nos dois grupos; diferença de risco de 0,0 pontos percentuais; IC de 95%, -3,8 a 1,4), infarto do miocárdio (1,2% em ACO+ e 1,6% em ACO-; diferença de risco de −0,5 pontos porcentuais; IC de 95%, −2,1 a 1,1), complicações vasculares maiores (10,2% em ACO+ e 7,7% em ACO-; diferença de risco de 2,5 pontos percentuais; IC de 95%, −1,3 a 6,3) e sangramentos maiores (11,1% em ACO+ e 8,9% em ACO-; diferença de risco de 2,2 pontos percentuais; IC de 95%, −1,8 a 6,3).

Conclusão

Em pacientes que foram submetidos a TAVI e tinham uma indicação concomitante de anticoagulação oral, a manutenção do tratamento com anticoagulantes não foi inferior à interrupção da anticoagulação no tocante à incidência de morte cardiovascular, AVC, infarto do miocárdio, complicações vasculares maiores ou sangramentos importantes em 30 dias. 

Título Original: Continuation versus Interruption of Oral Anticoagulation during TAVI  for the POPular PAUSE TAVI Investigators.

Referência: D.J. van Ginkel, et al. NEJM.org. DOI: 10.1056/NEJMoa2407794.


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Dr. Carlos Fava
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Membro do Conselho Editorial da solaci.org

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