Tromboaspiração fracassada e perfusão miocárdica reduzida em pacientes com IAMCEST e alta carga trombótica

A metade dos pacientes que são submetidos a uma angioplastia coronariana transluminal percutânea (ATC) no contexto de um infarto agudo do miocárdio com elevação do semento ST (IAMCEST) apresentam uma perfusão miocárdica inadequada, conhecida como fenômeno de no-reflow, o que contribui para a remodelação cardíaca e aumenta a mortalidade. Por isso, a eliminação eficaz do trombo poderia reduzir a incidência de no-reflow e melhorar o prognóstico clínico. 

No entanto, estudos como o TASTE (Thrombus Aspiration in ST-Elevation Myocardial Infarction in Scandinavia) e o TOTAL (Trial of Routine Aspiration Thrombectomy with PCI versus PCI Alone in Patients with STEMI) não mostraram benefícios clínicos significativos com o uso de tromboaspiração (TA), motivo pelo qual não se recomenda sua aplicação de forma rotineira. Apesar disso, muitos operadores continuam realizando a TA em pacientes com IAMCEST quando há uma carga trombótica elevada. 

O objetivo desta subanálise do Gangwon PCI, um registro prospectivo, multicêntrico e observacional, foi pesquisar o efeito da TA fracassada na perfusão miocárdica e nos resultados clínicos de pacientes com IAMCEST e alta carga trombótica submetidos a ATC. Além disso, foram avaliados os preditores clínicos e angiográficos associados com o fracasso da TA. 

O desfecho primário (DP) foi o fluxo TIMI final angiográfico depois da ATC. O desfecho secundário (DS) incluiu o grau final de blush miocárdico, a resolução eletrocardiográfica do segmento ST, a obstrução microvascular, o tamanho do infarto (medido mediante ressonância magnética cardíaca), a mortalidade por todas as causas, a mortalidade cardiovascular, a trombose do stent e a revascularização do vaso tratado em um mês.

Entrou na análise um total de 812 pacientes com IAMCEST e alta carga trombótica submetidos a ATC; entre eles, 279 apresentaram TA fracassada e 533 tiveram TA bem-sucedida. Os pacientes com TA fracassada eram mais idosos, mas não houve diferenças significativas entre os dois grupos em termos de sexo, fatores de risco e tempo desde o início do infarto. 

Leia também: Assimetria no implante das válvulas autoexpansíveis no TAVI. Evolução em 5 anos.

A proporção de fluxo TIMI final de grau 3 foi menor no grupo com TA fracassada do que no grupo com TA bem-sucedida (74,6% vs. 82,2%; P = 0,011). Em consonância com isso, o grupo TA fracassada mostrou uma menor perfusão miocárdica (grau de blush reduzido), menor resolução eletrocardiográfica do segmento ST e maior incidência de obstrução microvascular. A falha da TA se associou de maneira independente com um fluxo TIMI final baixo (cociente de risco: 1,525; IC de 95%: 1,048-2,218; P = 0,027). 

Entre os fatores associados à falha da TA foram detectados a idade avançada, a classe Killip ≥ III, a tortuosidade do vaso, a calcificação e o vaso culpado distinto da artéria descendente anterior.

Conclusão 

A TA fracassada esteve associada com uma redução de perfusão miocárdica em pacientes om IAMCEST e alta carga trombótica submetidos a ATC primária. A idade avançada, a instabilidade hemodinâmica, a tortuosidade e a calcificação da artéria relacionada com o infarto e o acometimento de artérias distintas da descendente anterior diminuem a eficácia da tromboaspiração no contexto do IAMCEST. 

Título Original: Failed Thrombus Aspiration and Reduced Myocardial Perfusion in Patients With STEMI and Large Thrombus Burden.

Referência: Ho Sung Jeon, MD et al JACC Cardiovasc Interv. 2024.


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Dr. Andrés Rodríguez
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Membro do Conselho Editorial da solaci.org

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