O tromboembolismo pulmonar (TEP) continua sendo a terceira causa de mortalidade cardiovascular. Os guias clínicos atuais recomendam a anticoagulação (ACO) em pacientes com risco intermediário que apresentam disfunção ventricular direita. No entanto, a mortalidade associada a essa afecção oscila entre 3% e 15%, o que impulsiona a busca de alternativas terapêuticas para melhorar seu manejo e prognóstico.
As terapias endovasculares, como a trombectomia mecânica com cateter de grande calibre (large bore) (TM) e a trombólise dirigida por cateter (TDC), mostraram resultados promissores em estudos prévios, embora nunca tenham sido diretamente comparadas.
O estudo PEERLESS é o primeiro ensaio randomizados que avalia um sistema de trombectomia e o primeiro que compara diretamente essas terapias avançadas. Trata-se de um estudo randomizado, multicêntrico, internacional e de design aberto, que incluiu pacientes com TEP agudo de risco intermediário. Esses pacientes apresentavam um defeito de preenchimento proximal em ao menos um dos ramos principais ou lobares, com sintomas de menos de 14 dias e uma intervenção realizada dentro das 72 horas após o diagnóstico. Foram excluídos os pacientes que não podiam receber anticoagulação, com trombo em trânsito, com uma expectava de vida de menos de 30 dias ou com pressão sistólica pulmonar ≥ 70 mmHg.
A designação dos pacientes foi 1:1 e o seguimento se estendeu até os 30 dias. No ramo TM foi utilizado o dispositivo FlowTriever (Inari), ao passo que no ramo TDC foram empregados dispositivos como o EKOS e cateteres de infusão (Cragg-McNamara, Uni-Fuse e Fountain), além da trombólise farmacêutica com o sistema BASHIR. Não foi incluído um grupo controle tratado somente com ACO.
O desfecho primário (DP) foi uma combinação hierárquica avaliada mediante win ratio, que incluiu os seguintes eventos: mortalidade por todas as causas, hemorragia intracerebral, sangramento maior, deterioração clínica ou necessidade de terapia de resgate (bailout) e o uso e duração da estância na unidade de terapia intensiva (UTI) após o procedimento.
Em total foram incluídos 550 pacientes, dentre os quais 274 foram tratados com TM e 276 com TDC em 57 centros de três países. A idade média dos participantes foi de 63,7 anos, com 54,4% de participantes do sexo masculino. 94,7% dos pacientes apresentavam níveis elevados de troponina, o que indicava um risco intermediário-alto e 26,4% tinham um escore VTE-BLEED ≥ 2. Apenas 4,2% apresentavam contraindicação relativa para o uso de trombolíticos.
No ramo TDC foram utilizados cateteres bilaterais em 92% dos casos, com uma dose média de tPA de 16 mg e um tempo médio de infusão de 14,5 horas. O sistema EKOS foi empregado em 59,8% dos casos.
O DP favoreceu significativamente a TM vs. a TDC, com um win ratio de 5,01 (IC 95%: 3,68–6,97; P < 0,001). Observaram-se diferenças significativas em dois dos cinco componentes: menor taxa de deterioração clínica ou necessidade de terapia de resgate (1,8% vs. 5,4%; P = 0,04) e menor utilização da UTI (P < 0,001). Não houve diferenças significativas na mortalidade por todas as causas (0,0% vs. 0,4%; P = 1,00), na taxa de sangramento maior (6,9% vs. 6,9%; P – 1,00) nem nos outros componentes do win ratio.
A mortalidade em 30 dias foi similar entre os dois grupos (0,4% vs. 0,8%; P = 0,62) e não foram observadas diferenças em termos de re-hospitalizações por TEP (0,0% vs. 0,8%; P = 1,00).
Os autores concluíram que o estudo PEERLESS alcançou o DP, associando-se a uma menor taxa de deterioração clínica, menos necessidade de terapia de bailout, menor utilização de UTI, melhores índices respiratórios, menor escore de sintomas e menos re-hospitalizações gerais.
Apresentado por Wissam A. Jaber nos Late-Breaking Trials, TCT 2024, 27-29 outubro, Washington, EUA.
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