Preditores de tratamento invasivo VS. conservador em pacientes idosos com síndromes coronarianas agudas.

Título original: Predictors of Treatment in Acute Coronary Syndromes in the Elderly: Impact on Decision Making and Clinical Outcome After Interventional Versus Conservative Treatment. Referência: Harald Rittger et al. Catheterization and Cardiovascular Interventions 80:735–743 (2012).

Este estudo publicado recentemente no Cath Cardiovasc Interven foi realizado para determinar os fatores que inclinaram os médicos responsáveis pelo tratamento a serem conservadores ou invasivos. Foram analisados, retrospectivamente, 1.001 pacientes consecutivos com mais de 75 anos internados devido a síndromes coronárias agudas com ou sem supradesnivel do segmento ST (NSTACS ou STACS).

A decisão de realizar um cateterismo e eventual angioplastia ou cirurgia de revascularização do miocárdio ficou a critério dos médicos responsáveis pelo tratamento. Do total de pacientes analisados, 754 (76%) ingressaram por SCANST e 776 (77,5%) receberam uma estratégia invasiva. Foi realizada uma análise por regressão logística para múltiplas características basais e para assim identificar possíveis fatores de confusão.

Os preditores para receber uma estratégia conservadora foram:

  • A idade avançada (o preditor mais significativo)
  • Classe funcional Killip III
  • Lesão de três vasos
  • AVC anterior
  • Obesidade
  • insuficiência renal anterior
  • O tipo de síndrome coronariana aguda
  • Infarto anterior
  • Presença de arritmias supraventriculares.

A mortalidade por todas as causas nos pacientes tratados de forma conservadora foi de 15.6% em contraste com 3.5% dos pacientes tratados de forma invasiva; o qual foi muito significativo a favor da estratégia invasiva (p<0.001). Os autores mencionam como limitação relevante do estudo: que esta é uma análise retrospectiva de um único centro. No entanto, o fato de que os pacientes são consecutivos, mostra a realidade da prática clínica para além dos testes e registros nesta faixa etária.

Conclusão: 

Nesta análise, a idade avançada foi o preditor mais forte para receber uma abordagem conservadora. Outras características que estão associadas com maior risco clínico, também inclinaram a balança para o tratamento conservador.

Comentário editorial

O tratamento de pacientes idosos com síndromes coronárias agudas não foi padronizada devido à falta de evidência proveniente de estudos randomizados e multicêntricos. As recomendações das diretrizes foram feitas principalmente pela transposição dos resultados dos estudos em pacientes muito mais jovens, o que deixa os pacientes idosos, muitas vezes à mercê da sua evolução natural, principalmente por medo dos médicos de complicações.

Estas complicações são, é claro, mais frequentes em pacientes idosos, mas de nenhum modo contrapesam o benefício potencial sobre a mortalidade total da estratégia invasiva. A proporção de pacientes idosos que são internados em nossos hospitais está crescendo (e continuará a crescer), portanto, esse dilema se tornará frequente em todas as unidades coronarianas. 

Finalmente, é preciso ter em mente que provavelmente nunca teremos com informação suficiente de trabalhos randomizados e multicêntricos concebidos especificamente para pacientes idosos.

SOLACI.ORG

Mais artigos deste autor

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

AHA 2025 | DECAF: consumo de café vs. abstinência em pacientes com FA — recorrência ou mito?

A relação entre o consumo de café e as arritmias tem sido objeto de recomendações contraditórias. Existe uma crença estendida de que a cafeína...

AHA 2025 | Estudo OCEAN: anticoagulação vs. antiagregação após ablação bem-sucedida de fibrilação atrial

Após uma ablação bem-sucedida de fibrilação atrial (FA), a necessidade de manter a anticoagulação (ACO) a longo prazo continua sendo incerta, especialmente considerando que...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...