Dupla antiagregação em mulheres e homens: existe diferenças?

Gentileza do Dr. Agustín Vecchia.

 

Dupla antiagregação em mulheres e homensA duração da dupla antiagregação plaquetária (DAPT) após o implante de um stent é atualmente um dos temas que gera intensos debate em nosso meio. Por outro lado, as mulheres costumam estar sub-representadas nos ensaios de nossa especialidade e é sabido que a doença coronária tem formas de apresentação diferentes neste grupo.

 

O objetivo da seguinte subanálise do PRODIGY é avaliar o impacto do sexo nos desfechos em dois anos em pacientes submetidos a angioplastia coronária (PCI) randomizados a seis meses vs. doze meses de DAPT.

 

O PRODIGY foi um estudo multicêntrico que incluiu 2.013 pacientes all comers submetidos a PCI com 4 tipos diferentes de stents (BMS, zotarolimus, paclitaxel ou everolimus) randomizados a seis ou doze meses de DAPT com clopidogrel e aspirina.

 

O grupo de mulheres (n = 459 [23,3%]) foi de maior idade, com maior prevalência de hipertensão, menor clearence de creatinina e apresentaram-se mais frequentemente com síndrome coronária aguda. Tiveram, ao mesmo tempo, doença coronária menos severa.

 

Após a análise multivariada, a DAPT prolongada não reduziu o desfecho primário em homens (HR: 1,080; IC 95%: 0,766 a 1,522; p = 0,661) nem em mulheres (HR: 1,013; IC 95%: 0.588 a 1,748; p = 0,962, p para interação = 0,785).

 

Não foram identificadas diferenças entre os sexos após analisar múltiplos desfechos isquêmicos, inclusive mortalidade global ou cardiovascular, infarto ou trombose de stent. Tampouco houve diferenças entre homens e mulheres com relação ao sangramento (BARC e GUSTO).

 

Conclusão

Os autores concluem que os desfechos isquêmicos e hemorrágicos são similares em ambos os grupos, apesar de as apresentações clínicas serem diferentes. O sexo não se comportou como um modificador da duração do tratamento de dupla antiagregação.

 

Comentário editorial

A evidência existente que inclui o sexo como variável relevante para definir a duração da DAPT é limitada. Em um state of the arte review publicado recentemente por Motalescot (1), observou-se que as mulheres constituíam um grupo que se beneficiaria com uma duração mais curta da DAPT, talvez devido a um menor número de comorbidades e a uma maior idade no momento da apresentação.

 

Por outro lado, o ensaio DAPT mostrou que uma duração prolongada do tratamento diminui o IAM e a trombose definitiva ou provável do stent em homens e não em mulheres. Contrariamente a isto, nas análises por sexo do ARCTIC e do PEGASUS não foram observadas diferenças nos resultados entre sexos.

 

Como conclusão, as mulheres têm um perfil de risco diferente do dos homens mas, uma vez ajustadas estas variáveis, os riscos isquêmicos e de sangramento parecem não diferir entre os sexos.

 

1: Montalescot G, Brieger D, Dalby AJ, Park SJ, Mehran R. Duration of dual antiplatelet therapy after coronary stenting: a review of the evidence. J Am Coll Cardiol 2015;66:832–47.

 

Título original: Impact of Sex on 2YearClinical Outcomes in Patients Treated With 6 Month or 24 Month Dual Antiplatelet. Therapy Duration A PreSpecified Analysis From the PRODIGY Trial.

Referência: Giuseppe Gargiulo et al. J Am Coll Cardiol Intv. 2016;9(17):17801789.

 

Gentileza do Dr. Agustín Vecchia. Hospital Alemão, Buenos Aires, Argentina.

 

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

AHA 2025 | DAPT-MVD: DAPT estendido vs. aspirina em monoterapia após PCI em doença multivaso

Em pacientes com doença coronariana multivaso que se mantêm estáveis 12 meses depois de uma intervenção coronariana percutânea (PCI) com stent eluidor de fármacos...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

AHA 2025 | OPTIMA-AF: 1 mês vs. 12 meses de terapia dual (DOAC + P2Y12) após PCI em fibrilação atrial

A coexistência de fibrilação atrial (FA) e doença coronariana é frequente na prática clínica. Os guias atuais recomendam, para ditos casos, 1 mês de...

AHA 2025 | Estudo OCEAN: anticoagulação vs. antiagregação após ablação bem-sucedida de fibrilação atrial

Após uma ablação bem-sucedida de fibrilação atrial (FA), a necessidade de manter a anticoagulação (ACO) a longo prazo continua sendo incerta, especialmente considerando que...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...