Grande dispersão no prognóstico dos pacientes com angina e coronárias sem lesões

O prognóstico dos pacientes com sintomas de angina (com toda a subjetividade dos quadros anginosos) no contexto de coronárias sem lesões significativas tem uma grande heterogeneidade. Não é nem tão benigno como pensávamos a princípio nem apresenta tantos eventos como ocorre com os pacientes “comuns” com lesões coronarianas severas associadas.

infarto peri-procedimientoFaltava buscarmos na biografia existente algum dado do prognóstico a longo prazo destes pacientes que aqui nos ocupam e é exatamente este o tema do trabalho publicado recentemente no European Heart Journal.

 

Fez-se uma busca de todos os trabalhos publicados sobre o tema até 2017 que incluíram nos eventos a morte por qualquer causa e o infarto não fatal. Analisaram-se 54 estudos com um total de 35.039 pacientes (idade média de 56 anos e uma relação homens/mulheres de 0,51), sendo que todos apresentavam sintomas anginosos típicos e coronárias sem lesões significativas.


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Após um seguimento de 5 anos (intervalo de 3 a 7 anos) a incidência global da combinação de morte e infarto foi de 0,98/100 pessoas/ano com uma considerável heterogeneidade entre os estudos (p < 0,001).

 

O desfecho primário se associou à presença de dislipidemia (p = 0,016), diabetes (p = 0,035) e hipertensão (p = 0,016). Os estudos que incluíram pacientes com lesões coronarianas não obstrutivas ou não significativas do ponto de vista angiográfico apresentaram mais eventos (1,32/100 pessoas/ano) que aqueles estudos que incluíram pacientes com coronárias completamente normais (0,52/100 pessoas/ano). No entanto, não foram observadas diferenças entre os estudos que incluíram pacientes com isquemia miocárdica documentada e aqueles que não incluíram dito ponto no protocolo.

 

De qualquer forma, ter a isquemia documentada por um estudo de imagens não invasivo se associou a uma maior taxa de eventos (p = 0,02).


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O tendão de Aquiles dos pacientes aqui estudados é, definitivamente, a alta taxa de internações recorrentes por angina que muitas vezes terminam em cateterismos que confirmam os resultados de cateterismos anteriores: coronárias sem lesões angiográficas significativas.

 

Conclusão

Os pacientes com angina e coronárias sem lesões significativas têm um prognóstico heterogêneo. O maior determinante de eventos adversos é a presença de “algo” de doença aterosclerótica e os testes funcionais positivos para isquemia em algum território. A qualidade de vida dos pacientes é afetada pela alta incidência de hospitalizações, angina recorrente e cateterismos repetidos.

 

Título original: 

Referência: Francesco Radico et al. Eur Heart J. 2018 Jun 14;39(23):2135-2146.


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