O JAMA Cardiology lançou um especial de 4 artigos que se dedicam a diferentes problemáticas enfrentadas pelas mulheres que estão pensando em escolher esta fascinante especialidade ou aquelas que já a escolheram, mas se sentem subvalorizadas ou subestimadas com relação a seus pares masculinos.
Um dos trabalhos mostrou as preferências dos alunos graduandos para sua posterior especialização. Todos eles valoraram muito o equilíbrio entre o trabalho e a vida, e sua percepção é que a cardiologia não conseguia o equilíbrio adequado, nem para os homens nem para as mulheres, embora esta sensação fosse maior entre as mulheres devido às disparidades salariais, à discriminação baseada na percepção de que as mulheres estarão mais tempo fora da sala de cateterismo por motivo de gravidez, etc.
O que o JAMA tentou fazer publicando simultaneamente os trabalhos mencionados foi tentar colocar sobre a mesa os problemas dos médicos que, em última instância, se traduzem em problemas de atenção adequada e de qualidade aos pacientes.
Leia também: Quem vive más após o TAVI: homens ou mulheres?
Os médicos não são robôs que aplicam o que recomendam os guias ou os resultados do último trabalho publicado em pacientes que foram escolhidos sob um estrito protocolo, mas sim pessoas da vida real que trabalham para melhorar a saúde de pacientes da vida real.
Em uma enquete realizada com 4.850 médicos em treinamento de 198 programas de residência observou-se uma clara diferença nas preferências. 63% das mulheres nunca nem sequer consideraram a possibilidade de ingressar em uma residência de cardiologia vs. 37% dos homens.
Os principais fatores que influenciaram na hora de decidir foram a impossibilidade de ter horários estáveis, dificuldades para uma vida familiar, dificuldades para continuar com as relações sociais prévias, diferenças salariais com relação aos homens para iguais tarefas e a sensação de menos oportunidades que seus pares masculinos de ter uma carreira estimulante e ascendente.
Leia também: WIN TAVI: o maior registro da atualidade de TAVI em mulheres.
Dada a tendência mundial de que cada vez mais mulheres escolham estudar medicina (atualmente há, inclusive, mais matrículas de mulheres que de homens) é fundamental identificar e abordar as barreiras culturais e sociais que impedem que as mulheres escolham a cardiologia como especialidade.
As vozes das mulheres têm que ser escutadas, embora elas não devam se encarregar sozinhas do trabalho de mudar as diferenças existentes. A liderança predominantemente masculina também deve assumir a responsabilidade de evoluir rumo a um sistema que meça o valor profissional de uma maneira uniforme e transparente.
Título original: Career preferences and perceptions of cardiology among US internal medicine trainees: factors influencing cardiology career choice.
Referência: Douglas PS et al. JAMA Cardiol. 2018; Epub ahead of print.
Receba resumos com os últimos artigos científicosSubscreva-se a nossa newsletter semanal
Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.