A proteção gástrica volta aos holofotes após várias idas e vindas

Vários guias clínicos variam sua recomendação de acordo com a prescrição de inibidores da bomba de prótons em pacientes que estejam recebendo dupla antiagregação plaquetária após um infarto. Em 2015 a Sociedade Europeia (ESC) recomendava seu uso em pacientes com alto risco de sangramento, mas depois da atualização de 2017 passou a recomendá-la para todos os pacientes entendo que o benefício supera o risco.

¿Se justifica utilizar filtro de protección distal en los puentes venosos?

Qual seria esse risco? Surgiram vários trabalhos que provavam uma alteração na farmacocinética do clopidogrel nos pacientes que recebiam inibidores da bomba de prótons, o que, no entanto, nunca pôde ser traduzido em eventos clínicos.

Duas coisas estão claras: a dupla antiagregação reduz, por um lado, os eventos cardiovasculares após um infarto e, por outro, aumentam o risco de sangramento.

Duas coisas mais também estão claras: os eventos isquêmicos recorrentes e o sangramento aumentam a mortalidade. Mas o benefício clínico específico favorece seu uso especialmente após um infarto agudo do miocárdio.


Leia também: Experiência de 5 anos ocluindo o apêndice atrial esquerdo: mais evidência que não se traduz à prática clínica.


O estudo Clopidogrel and the Optimization of Gastrointestinal Events demonstrou que o uso de inibidores da bomba de prótons reduz efetivamente o sangramento gastrointestinal, mas somente uma minoria dos pacientes incluídos nesse trabalho tinham infarto prévio e utilizou-se somente aspirina + clopidogrel. Menos sabemos ainda dos inibidores mais potentes como o prasugrel e o ticagrelor.

O presente trabalho avaliou 46.301 pacientes com dupla antiagregação plaquetária após um infarto agudo do miocárdio. Somente 35% dos pacientes (aqueles com maior risco de sangramento) receberam alta com proteção gástrica.

Após um ano a taxa de sangramento digestivo foi de 1% para a população geral e de 1,7% para o grupo de alto risco.


Leia também: Melhorando os resultados após a revascularização de membros inferiores.


Globalmente, os inibidores da bomba de prótons se associaram com um RR de 0,62 (IC 0,48 a 0,77) o que corresponde a uma diminuição absoluta do risco de 0,44%. O RR nos pacientes de alto risco foi similar ao da população geral, alcançando 0,47%.

Conclusão

Os inibidores da bomba de prótons são usados menos do que recomendam os guias da prática clínica na Europa em pacientes que recebem dupla antiagregação plaquetária após um infarto agudo do miocárdio. Eles efetivamente reduzem a taxa de sangramento gastrointestinal elevado. Quando o risco de sangramento é baixo, deve-se fazer mais foco na identificação dos pacientes que mais podem se beneficiar.

Título original: Reduced risk of gastrointestinal bleeding associated with proton pump inhibitor therapy in patients treated with dual antiplatelet therapy after myocardial infarction.

Referência: Thomas S.G. Sehested et al. European Heart Journal (2019) 00, 1–8. Article in press


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

AHA 2025 | DAPT-MVD: DAPT estendido vs. aspirina em monoterapia após PCI em doença multivaso

Em pacientes com doença coronariana multivaso que se mantêm estáveis 12 meses depois de uma intervenção coronariana percutânea (PCI) com stent eluidor de fármacos...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

AHA 2025 | DECAF: consumo de café vs. abstinência em pacientes com FA — recorrência ou mito?

A relação entre o consumo de café e as arritmias tem sido objeto de recomendações contraditórias. Existe uma crença estendida de que a cafeína...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...