Escore de Zwolle: é possível que um escore de risco defina o lugar de estadia dos pacientes com SCACSST?

A mortalidade das síndromes coronarianas agudas com supradesnivelamento do segmento ST (SCACSST) tem diminuído devido a uma melhora nos tempos de reperfusão (fibrinólise ou angioplastia primária), motivo pelo qual, na prática diária, temos observado um maior número de pacientes cursando IAM de maneira estável. 

Score de Zwolle ¿Puede un score de riesgo decidir el lugar de estadía de los pacientes con SCACEST?

Dita estabilidade clínica, juntamente com o baixo índice de complicações, traz a questão de se é necessário realizar uma triagem para evitar a utilização excessiva de leitos em unidades de cuidados intensivos cardiológicos (CICU, por sua sigla em inglês). Isso adquire grande relevância devido a uma crescente escassez da capacidade física operativa das instituições de saúde, sobretudo em setores de cuidados intensivos, fenômeno que se exacerbou com a irrupção da pandemia de COVID-19.

O escore de Zwolle (SDZ) foi inicialmente desenhado para identificar prováveis complicações posteriores à angioplastia (PTCA) em pacientes com SCACSST. Trata-se de um escore útil e prático para a estratificação de risco nesses pacientes. Suas variáveis consistem no estado de Killip no momento da admissão, no fluxo TIMI pós-intervenção, idade, doença de três vasos, infarto anterior e presença de isquemia miocárdica com uma duração superior a quatro horas. 

Esse escore já tinha sido validado para a alta precoce pós PTCA de SCACSST e para avaliar a admissão de pacientes em salas com telemetria segundo o risco. Não conhecemos sua utilidade em pacientes submetidos a uma PTCA posterior à administração de fibrinolíticos (angioplastia de resgate ou angioplastia facilitada). 

O objetivo deste estudo prospectivo e realizado em um único centro foi avaliar a segurança do SDZ para a triagem de pacientes com SCACSST posterior a uma PTCA, incluindo aqueles que receberam fibrinolíticos antes da intervenção. 

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Com pontos de corte previamente estipulados e validados, considerou-se como alto risco os pacientes com SDZ ≥ 4 ou parada cardiorrespiratória (PCR) no momento da admissão ou na sala de hemodinâmica, sendo admitidos em uma CICU após a intervenção. Os pacientes de baixo risco foram aqueles com SDZ ≤ 4, sendo estes internados em uma sala com disponibilidade de telemetria. 

Foram incluídos 452 pacientes com SCACSST, com 65 ± 12 anos, sendo a população composta em 73% por homens. Dentre eles, 257 apresentavam SDZ 4 (sob risco) e 195 SDZ ≥ 4 (alto risco). 

No grupo considerado de baixo risco a mortalidade intra-hospitalar foi de 0,4%. 2% deles apresentou complicações relacionadas aos cuidados intensivos, com um tempo médio de internação total de 3 dias (RIC 2-3; p = 0,003). No grupo de alto risco, a mortalidade intra-hospitalar foi de 13%, com um tempo médio de internação de 4 dias (RIC 3-5), maior índice de choque cardiogênico (34% vs. 1%) e arritmia ventricular (25% vs. 2%), chegando a apresentar necessidade de algum tipo de assistência ventricular durante a internação (BCIAO, ECMO VA, etc.) em 4% dos casos. 

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Na subanálise dos pacientes que receberam fibrinolíticos, 16% do total (59% foram por angioplastia de resgate e 41% pela estratégia facilitada) observou-se maior mortalidade intra-hospitalar e maior probabilidade de choque cardiogênico no grupo de alto risco. 

Conclusões

O SDZ é um escore útil e prático para a estratificação de risco na SCACSST. Até o momento não se dispunha de dados na população que recebeu fibrinolíticos, observando-se na mesma uma menor mortalidade e eventos nos pacientes de baixo risco. Sua aplicação poderia ter impacto na decisão clínica e nos custos associados ao tratamento. O uso desta ferramenta pode ajudar a melhorar a distribuição de leitos e assim evitar um eventual colapso do sistema. 

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org

Fonte: Parr CJ, Avery L, Hiebert B, Liu S, Minhas K, Ducas J. Using the Zwolle Risk Score at Time of Coronary Angiography to Triage Patients With ST-Elevation Myocardial Infarction Following Primary Percutaneous Coronary Intervention or Thrombolysis. J Am Heart Assoc. 2022 Feb 15;11(4):e024759. doi: 10.1161/JAHA.121.024759. Epub 2022 Feb 8. PMID: 35132867.


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