A circulação que compromete o tronco da coronária esquerda (TCE) abrange aproximadamente 70% do músculo cardíaco, motivo pelo qual sua intervenção representa um risco significativo com considerável impacto no prognóstico dos pacientes. Os principais guias de revascularização recomendam abordar as estenoses do TCE ≥ 50%, independentemente da presença de sintomas ou de isquemia.
A presença de calcificação coronariana nessa área constitui um fator independente que se associa com a mortalidade por todas as causas e com a mortalidade cardiovascular. A preparação e tratamento subótimos de lesões calcificadas com frequência resulta em falhas técnicas, com consequente risco consideravelmente maior de eventos cardiovasculares graves.
A litotripsia intravascular (IVL) tem experimentado um aumento paulatino em sua aplicação ao longo dos anos. Sua capacidade controlada de gerar pressão acústica pode induzir fraturas seletivas em placas calcificadas intra-arteriais, facilitando assim a expansão efetiva do stent. Apesar de sua eficácia e segurança demonstradas no manejo de calcificações, a informação da qual se dispõe sobre sua aplicação específica no TCE é escassa. Este estudo visa a avaliar os resultados a curto prazo da angioplastia coronariana (PCI) no TCE assistida por IVL.
Este estudo retrospectivo e multicêntrico compreendeu sete centros dos Estados Unidos. Foram incluídos pacientes com doença calcificada severa “de novo” no TCE, tanto em síndromes coronarianas agudas (SCA) quanto crônicas, e com calcificação avaliada fluoroscopicamente ou por meio de imagens intravasculares > 270° em ao menos um segmento.
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Entre janeiro de 2019 e janeiro de 2023 foram reunidos dados de 184 pacientes submetidos a PCI do TCE com assistência de IVL. Os pacientes eram predominantemente casos de SCA (65,4%), com um índice de calcificação severa de 90,7% segundo angiografia (100% mediante imagens intravasculares); 25,1% dos pacientes apresentaram bifurcação do TCE.
Antes da IVL, procedeu-se à pré-dilatação em 83,1% dos pacientes e à aterectomia rotacional em 18,4%. A média de pulsos utilizados por ondas de choque foi de 70 ± 27. Após a IVL, a dilatação com balão foi levada a cabo em 76,7% dos casos e em 9,7% foi utilizado algum balão especial. O implante do stent foi bem-sucedido em 99,4% dos casos, com um aumento significativo da área luminal mínima em comparação com a área mínima do stent pós-PCI (4,1 ± 1,3 a 9,3 ± 2,5 mm2, respectivamente; P < 0,001).
No que se refere aos efeitos adversos, evidenciou-se 4,4% de eventos cardíacos maiores intra-hospitalares (MACE), desmembrados em 3,9% de mortalidade por todas as causas, 2,2% de infarto do miocárdio e 0,6% de perfurações coronarianas e no reflow. Em 30 dias, os MACE aumentaram para 8,8%, com 7,2% de mortalidade por todas as causas e 3,3% de infarto do miocárdio. Depois de uma análise de regressão logística multivariável, a presença de infarto agudo do miocárdio foi o único preditor significativo de MACE em 30 dias.
Conclusões
Em síntese, a aplicação de IVL na intervenção percutânea de lesões calcificadas no TCE demonstrou um elevado sucesso técnico, incrementos substanciais na área luminal pós-PCI e um baixo risco de MACE a curto prazo.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Retrospective Multicenter Analysis of Intravascular Lithotripsy Use During Calcified Left Main Coronary Artery Percutaneous Coronary Interventions.
Referência: Robert F. Riley, Larry E. Miller, Rhian Davies, Khaldoon Alaswad, Zaid Al-Jebaje, Darshan Doshi, Farouc A. Jaffer, Srikanth Adusumalli, Jarrod D. Frizzell, Kris Kumar, Mitul P. Patel, Ali Dakroub, Ziad A. Ali. Retrospective Multicenter Analysis of Intravascular Lithotripsy Use During Calcified Left Main Coronary Artery Percutaneous Coronary Interventions. Journal of the Society for Cardiovascular Angiography & Interventions, Volume 3, Issue 2, 2024. https://doi.org/10.1016/j.jscai.2023.101213.
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