Hipertensão pulmonar tromboembólica crônica: resultados das terapêuticas conforme registro internacional global

A hipertensão pulmonar tromboembólica crônica (CTEPH) é uma patologia altamente limitante que, apesar de ter incidência moderada, tem impacto significativo no prognóstico e na qualidade de vida dos pacientes. A progressão natural da doença se caracteriza pelo remodelamento microvascular, que aumenta de forma progressiva as resistências vasculares pulmonares, resultando em insuficiência cardíaca direita e, em ausência de tratamento, levando à morte.

Hipertensión pulmonar

A Associação Internacional de CTEPH elaborou um primeiro registro (2007-2012) que incluiu 679 pacientes da Europa e do Canadá. Em dito estudo, observou-se que os pacientes submetidos a endarterectomia pulmonar (PEA) apresentavam uma melhor sobrevivência em três anos do que aqueles que não foram submetidos à intervenção. 

Desde então, ocorreram avanços nas terapias médicas e nos procedimentos mecânicos para o tratamento da CTEPH. Em 2013 foi aprovado o uso de estimulador de guanilato ciclase, o Riociguate, e, paralelamente, a angioplastia pulmonar com balão (BPA), começou a se consolidar em centros japoneses e posteriormente em outros lugares do mundo. 

Para avaliar o impacto desses avanços foi estabelecido um novo registro com o objetivo de definir as características clínicas, o diagnóstico e o tratamento atual, bem como avaliar a sobrevivência e a experiência pós-tratamento. Dito registro incluiu 1009 pacientes entre fevereiro de 2015 e setembro de 2016 com dados de 34 centros especializados em hipertensão pulmonar (HP), em 20 países. Foram incluídos pacientes diagnosticados mediante cateterismo direito, com pressão pulmonar média igual ou superior a 25 mmHg e pressão capilar pulmonar igual ou inferior a 15 mmHg, e com resultados patológicos na gamagrafia V/Q ou na angiografia pulmonar por tomografia computadorizada (TC) ou subtração digital que confirmaram a doença tromboembólica. 

Leia também: TCT 2024 – EVOLVED trial: Devemos intervir mais precocemente nos pacientes com estenose aórtica severa assintomática e fibrose miocárdica?

A maioria dos pacientes incluídos procedia de centros europeus (n = 697), japoneses (n = 114) e estadunidenses (n = 44). A idade média no momento do diagnóstico foi de 63 anos e 48% dos pacientes eram homens. O tempo médio desde o surgimento dos sintomas até o diagnóstico foi de 15 meses, e desde o diagnóstico até a intervenção, de 3 meses. A pressão arterial pulmonar média (PAP) foi de 44 mmHg e as resistências vasculares pulmonares (RVP) foram de 643 dyn/seg/cm.  

Na coorte global, 60% dos pacientes foram tratados com PEA, 18% com BPA e 22% com tratamento médico unicamente (com riociguate). No Japão, a situação foi diferente, com 68% dos pacientes tratados com BPA. Entre os pacientes tratados com BPA, 63% já estavam sob tratamento farmacológico específico, ao passo que dita proporção era de 25% entre os tratados com PEA. Os 185 pacientes submetidos a BPA requereram um total de 908 sessões, com uma média de 192 dias de tratamento. 

As repercussões hemodinâmicas foram avaliadas mediante cateterismo três meses depois da intervenção, observando-se uma diminuição similar das RVP em BPA (59%) e PEA (57%). Porém, quase 50% dos pacientes mostraram persistência da HP em ambas as estratégias mecânicas. 

A mortalidade intra-hospitalar e em 30 dias foi de 3,2% para PEA e de 1,1% para BPA. Em 4,5% dos casos de PEA foi necessário o uso de ECMO V-A. O volume de procedimentos dos centros não se associou significativamente à mortalidade (2,5% em centros de alto volume e 4,5% em centros de baixo ou médio volume).  

Leia também: TCT 2024 | TRISCEND II, uma nova esperança na substituição tricúspide percutânea.

As complicações observadas nas sessões de BPA incluíram a hemoptise (7%), lesão pulmonar (6%), necessidade de ventilação não invasiva (2%) e requerimento de intubação (0,2%). Em um ano de seguimento, 43% dos pacientes tratados com BPA continuavam com tratamento para HP vs. 14% no caso dos tratados com PEA. 

No seguimento de 3,1 anos foram registradas 123 mortes (71 relacionadas com HP). As taxas de sobrevivência foram de 94% para os pacientes com PEA, de 92% para os tratados com BPA e de 71% para aqueles que não receberam tratamento mecânico. Os fatores associados com uma menor mortalidade em PEA incluíram a menor idade, antecedentes de trombose venosa profunda e menores níveis de RVP pré e pós-intervenção. No caso da BPA, os fatores que melhoraram a sobrevivência foram uma menor pressão atrial direita, uma melhor classe funcional e o uso de oxigenoterapia crônica. 

Conclusões

O registro global de CTEPH, que inclui o uso de riociguate e das terapias mecânicas de endarterectomia e angioplastia com balão, demonstra excelentes resultados em termos de sobrevivência. 

Título Original: Worldwide CTEPH Registry: Long-Term Outcomes With Pulmonary Endarterectomy, Balloon Pulmonary Angioplasty, and Medical Therapy.

Referência: Delcroix M, Pepke-Zaba J, D’Armini AM, Fadel E, Guth S, Hoole SP, Jenkins DP, Kiely DG, Kim NH, Madani MM, Matsubara H, Nakayama K, Ogawa A, Ota-Arakaki JS, Quarck R, Sadushi-Kolici R, Simonneau G, Wiedenroth CB, Yildizeli B, Mayer E, Lang IM. Worldwide CTEPH Registry: Long-Term Outcomes With Pulmonary Endarterectomy, Balloon Pulmonary Angioplasty, and Medical Therapy. Circulation. 2024 Oct 22;150(17):1354-1365. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.124.068610. Epub 2024 Sep 17. PMID: 39286890.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Dr. Omar Tupayachi
Dr. Omar Tupayachi
Membro do Conselho Editorial do solaci.org

Mais artigos deste autor

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Impacto da Pressão Arterial Sistólica Basal nas Alterações Pressóricas após a Denervação Renal

A denervação renal (RDN) é uma terapia recomendada pelas diretrizes para reduzir a pressão arterial em pacientes com hipertensão não controlada, embora ainda existam...

Hipertrigliceridemia como fator-chave no desenvolvimento do aneurisma de aorta abdominal: evidência genética e experimental

O aneurisma de aorta abdominal (AAA) é uma patologia vascular de alta mortalidade, sem opções farmacológicas efetivas e com um risco de ruptura que...

Fibrilação Atrial e Doença Renal Crônica: Resultados de Diferentes Estratégias de Prevenção de Acidente Vascular Cerebral

A fibrilação atrial (FA) afeta aproximadamente 1 em cada 4 pacientes com doença renal terminal (DRT). Essa população apresenta uma alta carga de comorbidades...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...