QFR vs. FFR: é seguro diferir a revascularização coronariana? Resultados da subanálise do Estudo FAVOR III

No caso de lesões coronarianas intermediárias recomenda-se fazer a avaliação funcional para a tomada de decisões sobre a revascularização. Atualmente existem distintos índices utilizados com tal propósito, como o fluxo fracionado de reserva (FFR) e os índices de fluxo coronarianos não hiperêmicos. O índice de fluxo quantitativo (QFR) é um método baseado em angiografia que permite estimar o valor do FFR. 

Diversos estudos validaram o uso do QFR para guiar a decisão de revascularização em lesões coronarianas intermediárias. Contudo, o ensaio randomizado FAVOR III Europa, publicado posteriormente, demonstrou que uma estratégia baseada no QFR não cumpria com os critérios de não inferioridade quando comparado com o FFR no tocante à incidência de eventos cardíacos adversos maiores (MACE). Embora diferir a revascularização com base em índices fisiológicos tenha demonstrado ser uma prática segura, a segurança de dita estratégia especificamente com o QFR ainda não está validada. 

O objetivo desta subanálise do Estudo FAVOR III Europa (ensaio randomizado e multicêntrico) foi avaliar a segurança de diferir a revascularização com base no QFR em comparação com o FFR. 

O desfecho primário (DP) foi a taxa de MACE em um ano, definida como a combinação de morte por qualquer causa, infarto agudo do miocárdio (IAM) ou revascularização coronariana não planejada. O desfecho secundário (DS) incluiu os componentes individuais do DP e a falha do vaso tratado (TVF). 

Leia também: Preditores de sucesso no uso de litotripsia intravascular em lesões coronarianas calcificadas.

O ensaio FAVOR III Europa incluiu 2000 pacientes, dentre os quais 1008 foram randomizados ao grupo QFR e 992 ao grupo FFR. A idade média da população incluída foi de 66 anos, com uma participação majoritária de homens. A forma de apresentação clinica mais frequente foi a síndrome coronariana aguda. Um total de 523 pacientes (55,2%) do grupo QFR e 599 (65,3%) do grupo FFR tiveram ao menos uma revascularização diferida. Dentre eles, 433 pacientes (82,8%) do grupo QFR e 511 (85,3%) do grupo FFR tiveram uma revascularização diferida completa de todas as lesões. 

No grupo de pacientes com revascularização diferida completa, a taxa de MACE foi significativamente maior no grupo QFR em comparação com o grupo FFR (24 [5,6%] vs. 14 [2,8%]; HR 2,07; IC 95%: 1,07-4,03; p = 0,03). No subgrupo com ao menos uma lesão diferida, a taxa de MACE foi de 5,6% vs. 3,6%, respectivamente (HR 1,55; IC 95%: 0,88-2,73; p = 0,13).

Conclusão

Nesta subanálise, diferir a revascularização coronariana com base no QFR se associou com uma maior taxa de MACE em comparação com a estratégia baseada em FFR. Tal diferença se deveu principalmente a um maior número de revascularizações não planejadas. 

Título Original: Coronary revascularisation deferral based on quantitative flow ratio or fractional flow reserve: a post hoc analysis of the FAVOR III Europe trial.

Referência: Birgitte K. Andersen MD et al EuroIntervention 2025;21:e1-e10.


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Dr. Andrés Rodríguez
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Membro do Conselho Editorial da solaci.org

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