Células-tronco: uma nova alternativa para a angina refratária?

Gentileza do Dr. Agustín Vecchia.

celulas madrePesquisas recentes e alguns trabalhos randomizados sugerem que a administração de células-tronco CD34+ em pacientes com angina refratária melhora a tolerância ao exercício e diminui os episódios de angina.

Este é um trabalho em fase III, randomizado, duplo cego, multicêntrico que compara três grupos de pacientes: o tratamento ativo mediante a injeção intramiocárdica de células-tronco CD34+ (autólogas, purificadas) tratamento padrão (open label) ou injeção intramiocárdica de placebo.

 

-O desfecho de eficácia foi a tolerância ao exercício no transcurso de um ano.

-Os desfechos secundários foram os episódios de angina em 3, 6 e 12 meses e a tolerância ao exercício no transcurso de 3 e 6 meses.

-O desfecho de segurança foi a ocorrência de eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE) durante 24 meses.

 

O estudo teve uma detenção precoce por questões estratégicas do patrocinador após admitir 112 (dos 444 planejados) pacientes.

 

A diferença no tempo de exercício entre pacientes do grupo de células-tronco vs. grupo placebo foi de:

– 61 segundos em 3 meses (IC 95% -2,9 a 124,8; p = 0,06).

– 46,2 segundos em 6 meses (IC 95% -28,0 a 120,4; p = 0,22).

– 36,6 segundos em 12 meses (IC 95% -56,1 a 129,2; p = 0,43).

 

Com relação aos episódios de angina, houve uma diminuição de sua frequência em 6 meses (RR 0,63; p = 0,05).

 

A administração de células-tronco parece ser segura com respeito aos demais tratamentos. MACE:

– 67,9% para o tratamento padrão.

– 42,9% no grupo controle ativo.

– 46,0% no grupo CD34+.

 

Conclusão

A detenção precoce do estudo torna difícil tirar conclusões. Ainda assim, as tendências estão em consonância com as observadas em outros estudos (ACT34) e os achados ressaltam a necessidade de um ensaio definitivo para demonstrar a eficácia desta terapêutica.

 

Comentário editorial

O encerramento precoce do RENEW transformou-o em um estudo sem poder para avaliar o desfecho primário proposto pelos autores. Apesar disso, merece destaque o fato de os pacientes do grupo CD34+ terem mostrado melhores valores de tolerância ao exercício em todos os períodos avaliados e menos episódios de angina no transcurso dos 3 e dos 6 meses.

 

Outro ponto forte a favor é que não foram observadas complicações associadas ao procedimento (perfurações ventriculares, MACE, arritmias ventriculares).

Outra consideração é a alta porcentagem de benefício atribuído ao “efeito placebo” no grupo controle ativo, não observado nos estudos prévios (por exemplo, o ACT34 trial).

 

Finalmente, os resultados obrigam a realizar um novo trabalho randomizado sobre o tema.

 

 

Título original: The RENEW Trial Efficacy and Safety of Intramyocardial Autologous CD34+ Cell Administration in Patients With Refractory Angina.

Referência: Povsic TJ et al. J Am Coll Cardiol Intv. 2016;9(15):1576-1585.

 

Gentileza do Dr. Agustín Vecchia. Hospital Alemão, Buenos Aires, Argentina.

 

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou que desejar. Será mais que bem-vindo.

 

Mais artigos deste autor

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

AHA 2025 | DECAF: consumo de café vs. abstinência em pacientes com FA — recorrência ou mito?

A relação entre o consumo de café e as arritmias tem sido objeto de recomendações contraditórias. Existe uma crença estendida de que a cafeína...

AHA 2025 | Estudo OCEAN: anticoagulação vs. antiagregação após ablação bem-sucedida de fibrilação atrial

Após uma ablação bem-sucedida de fibrilação atrial (FA), a necessidade de manter a anticoagulação (ACO) a longo prazo continua sendo incerta, especialmente considerando que...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...