Preditores de marca-passo definitivo com SAPIEN 3

Preditores de marca-passo definitivo com SAPIEN 3

O objetivo deste trabalho foi identificar os preditores de marca-passo definitivo após o implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) com a última geração da valva balão expansível Edwards SAPIEN 3.

 

Os novos defeitos de condução que requerem marca-passo definitivo são um dos maiores problemas após o TAVI e os preditores não estão completamente definidos. Além disso, ditos preditores poderiam variar com as novas gerações de dispositivos.

 

Foram analisados em 229 pacientes que receberam TAVI com a valva balão expansível SAPIEN 3:

  • A influência da profundidade do implante por angiografia;
  • O volume de cálcio na zona de implante do dispositivo;
  • O grau de sobredimensionamento;
  • A pré e pós-dilatação;
  • Os transtornos de condução basais.

 

Em total, 14,4% dos pacientes requereu marca-passo definitivo.

 

Aqueles pacientes que requereram marca-passo apresentaram um maior volume de cálcio na via de saída do ventrículo esquerdo abaixo da valva coronariana esquerda (23,7 mm3 vs. 3,0 mm3; p < 0,001) e abaixo da valva coronariana direita (6,6 mm3 vs. 0,3 mm3; p = 0,014).

 

Também foi observada uma maior prevalência de bloqueio completo de ramo direito prévio naqueles pacientes que requereram marca-passo (15% vs. 2%; p = 0,004) e uma maior profundidade do implante (porção ventricular do stent 29 ± 12% vs. 21 ± 5%; p < 0,001).

 

Na análise multivariada surgiram como preditores de marca-passo definitivo:

  • Um volume de cálcio na via de saída abaixo da valva esquerda > 13,7 mm3;
  • Um volume de cálcio na via de saída abaixo da valva direita > 4,8 mm3;
  • Bloqueio completo do ramo direito prévio;
  • 25,5% ou mais do stent na porção ventricular no que se refere à profundidade do implante.

Ao modificar a técnica com o objetivo de um implante mais alto da valva se conseguiu diminuir de 24% a 21% (p = 0,012) a porção de stent na via de saída, que foi acompanhada de uma diminuição da taxa de marca-passo (19,2% vs. 9,2%; p = 0,038).

 

Conclusão

O volume de cálcio na via de saída abaixo do seio esquerdo e do seio direito, o bloqueio completo de ramo direito e profundidade do implante são preditores independentes de necessidade de marca-passo pós-TAVI. Os pacientes podem ser estratificados utilizando-se essas quatro variáveis. Um implante ligeiramente mais alto pode diminuir a taxa de marca-passo.

 

Comentário editorial

Esta análise surge quando novos estudos estão mostrando que a necessidade de marca-passo definitivo não é tão inócua quanto acreditávamos. Uma revisão sistemática e uma metanálise realizadas pelo Dr. Ander Regueiro e publicada em Circ Cardiovasc Interv concluiu que a necessidade marca-passo não aumentava a mortalidade.

 

No entanto, posteriormente foram publicados os trabalhos do Dr. Opeyemi em J Am Coll Cardiol Intv e do Dr. Gennaroi Giustino em EuroIntervention e ambos mostraram que a necessidade marca-passo se associava a eventos como morte.

 

Do mesmo modo, recentes estudos que compararam a SAPIEN XT com a SAPIEN 3 sugeriram que a última geração (SAPIEN 3) mostrava menos regurgitação paravalvar mas maior necessidade de marca-passo (Fernando De Torres-Alba et al. J Am CollCardiolIntv).

 

É necessário considerar que todos os trabalhos acima mencionados são publicações de 2016, o que deixa claro que ainda não há nada definitivo sobre a necessidade de marca-passo pós-TAVI.

 

Título original: Predictors of Permanent Pacemaker Implantation After Transcatheter Aortic Valve Replacement With the SAPIEN 3.

Referência: Victor Mauri et al. J Am Coll Cardiol Intv. 2016;9(21):2200-2209.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

 

Mais artigos deste autor

Desafios contemporâneos na oclusão do apêndice atrial esquerdo: enfoque atualizado sobre a embolização do dispositivo

Embora a oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo seja, em geral, um procedimento seguro, a embolização do dispositivo – com uma incidência global de...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...

É realmente necessário monitorar todos os pacientes após o TAVI?

Os distúrbios de condução (DC) posteriores ao implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) constituem uma complicação frequente e podem incidir na necessidade de um...

Valvoplastia aórtica radial: vale a pena ser minimalista?

A valvoplastia aórtica com balão (BAV) foi historicamente empregada como estratégia de “ponte”, ferramenta de avaliação ou inclusive tratamento paliativo em pacientes com estenose...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Desafios contemporâneos na oclusão do apêndice atrial esquerdo: enfoque atualizado sobre a embolização do dispositivo

Embora a oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo seja, em geral, um procedimento seguro, a embolização do dispositivo – com uma incidência global de...