Revascularização completa em etapas vs. vaso culpado a longo prazo

A revascularização completa em etapas em pacientes com um infarto agudo do miocárdio em curso e lesões em outros vasos supera a angioplastia da artéria culpada isoladamente após 5 anos de seguimento.

Os resultados desta análise retrospectiva mostram o benefício da angioplastia em etapas, embora dito benefício possa ser relativizado em pacientes diabéticos. Os resultados são consistentes com os estudos randomizados previamente publicados.

De qualquer forma, temos que ser cautelosos com as interpretações deste trabalho em particular, já que o desenho é observacional do “mundo real” e pode estar cheio de fatores causadores de confusão. Por exemplo: por que alguns pacientes receberam revascularização e outros não? Deve ter havido razões, e ditas razões talvez expliquem as diferenças nos resultados.

Leia também: Cirurgia bariátrica associada a menor mortalidade por infarto e AVC.

O trabalho tampouco nos oferece respostas sobre o melhor momento para completar a revascularização (quando devem ser as etapas).

Este trabalho foi recentemente publicado no The American Journal of Cardiology. O mesmo incluiu 1.205 pacientes cursando um infarto com supradesnivelamento do segmento ST e doença de outros vasos. Aproximadamente a metade dos pacientes foram submetidos a angioplastia em etapas e o resto somente a angioplastia da artéria ocasionadora do evento.

Utilizou-se propensity score para comparar os grupos, ficando 415 pacientes em cada ramo com características basais similares.

Leia também: Novos dispositivos percutâneos para evitar a embolia na fibrilação atrial.

Fez-se um seguimento de 5 anos, observando-se um menor risco de eventos combinados MACCE (morte por qualquer causa, infarto, AVC e revascularização não planejada) que foi de 30,6% para o grupo de revascularização completa vs. 34,5% para o grupo artéria culpada somente (HR 0.7, IC 95% 0.55 a 0.89). Os pacientes com revascularização completa tenderam também a apresentar menos infarto e menos revascularizações não planejadas.

Os resultados foram consistentes na maioria dos subgrupos, excetuando-se os pacientes diabéticos. Para eles não houve redução de eventos, independentemente da estratégia.

Os pacientes com lesão de 3 vasos mostraram um benefício mais pronunciado que a população geral.

Proximamente serão publicados os estudos COMPLETE e FULL REVASC, que esperamos sirvam para esclarecer o panorama e, além disso, ajudar os guias a fazer recomendações mais específicas.

Título original: Long-term safety and efficacy of staged percutaneous coronary intervention for patients with ST-segment elevation myocardial infarction and multivessel coronary disease.

Referencia: Cui K et al. Am Heart J. 2019; Epub ahead of print.

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