O que ocorre quando damos demasiada relevância ao tronco e não vemos o resto das lesões?

Segundo esta recente análise do Excel, a mortalidade parece aumentar quando o escore de SYNTAX II não é levado em consideração para definir a estratégia de revascularização. A diferença não alcança a significância estatística e são necessários mais estudos, mas a mensagem é clara: a importância não se concentra somente no tronco. As outras lesões também importam e, muitas vezes, todas essas outras lesões e não a lesão do tronco em si que vão inclinar a balança no sentido de que pode ser uma angioplastia simples. Tudo isso foi apresentado pelo Dr. Patrick Serruys nas sessões científicas do último PCR.

O escore de SYNTAX II deriva do SYNTAX original e foi desenvolvido para predizer a mortalidade a longo prazo após a revascularização do tronco e de múltiplos vasos. O SYNTAX II combina a anatomia do score original com outras características clínicas como a idade, o sexo, a doença pulmonar obstrutiva crônica, a doença vascular periférica, a fração de ejeção ou o clearence de creatinina.

Não seguir a recomendação do escore que sugere que o paciente poderia se beneficiar mais de uma ou de outra estratégia cirúrgica (e tratar o paciente com angioplastia) se vinculou a uma tendência a maior mortalidade por qualquer causa após 4 anos.

O estudo EXCEL principal incluiu 1.900 pacientes de risco baixo a moderado com lesão de tronco não protegido randomizados a angioplastia ou cirurgia. Após 3 anos os resultados de ambas as estratégias foram comparáveis em termos de morte, AVC e infarto.


Leia também: Endocardite e TAVI, uma complicação rara mas devastadora.


Esta nova análise incluiu 1.807 pacientes do EXCEL que tinham um SYNTAX score II. De todos os pacientes os quais o SYNTAX II sugeria que a melhor opção era a cirurgia somente 78 foram randomizados a cirurgia, ao passo que outros 81 receberam angioplastia.

De maneira similar, os pacientes os quais os escore sugeria angioplastia como melhor opção, 184 finalmente foram submetidos a cirurgia e 158 a angioplastia. Globalmente a concordância entre o resultado do escore de SYNTAX II e a estratégia de tratamento foi de 85%.

Nos pacientes em que o resultado do escore foi equivalente, a mortalidade após 4 anos não mostrou diferenças significativas (9% vs. 7,5%, HR 1,19; IC 95% 0,81 A 1,75).

Por outro lado, os resultados foram diferentes quando o resultado do escore não foi equivalente entre uma e outra estratégia. Quando no SYNTAX II se recomendava a cirurgia, a mortalidade após 4 anos foi de 5,3% nos randomizados a cirurgia vs. 14,1% nos randomizados a angioplastia (p = 0,07).


Leia também: Medicação antianginosa antes e depois de uma recanalização.


No grupo em que o escore recomendou a angioplastia, a mortalidade a curto prazo foi muito maior com a cirurgia (5% vs. zero após 6 meses com angioplastia), embora após 4 anos as curvas tenham se cruzado sem que por isso as diferenças tenham sido significativas (13,6% para angioplastia vs. 7,8% para cirurgia; p = 0,11).

Os poucos pacientes em que a randomização não coincidiu com o que recomendava o escore fazem com que esta análise não tenha o poder suficiente para detectar diferenças. Apesar disso, serve para que estejamos prevenidos de possíveis erros e orienta-nos a não forçar indicações.

Título original: Non-respect of SYNTAX score II treatment recommendation of surgery (PCI treated) negatively impacts 4-year mortality in patients with LM CAD—the EXCEL trial.

Referência: Serruys P et al. Presentado en el EuroPCR 2019.


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