TAVI: deveríamos começar a usar o radial como segundo acesso?

Gentileza do Dr. Carlos Fava.

Um dos grandes desafios que nós, cardiologistas intervencionistas, ainda temos relaciona-se com a escolha dos acessos. A redução do diâmetro dos dispositivos e o desenvolvimento da oclusão percutânea, além da maior experiência dos operadores, têm diminuído de maneira significativa as complicações vasculares. No entanto, devemos considerar a questão do acesso secundário – geralmente o femoral – que na maior parte das vezes é utilizado como campo de atuação nos casos de complicação do acesso primário.  

acceso

É aí que o acesso radial (que já demonstrou seu grande benefício no território coronariano) surge como alternativa, já que devido à escassa informação da qual dispomos na atualidade, o acesso secundário seria o responsável por 25% das complicações vasculares. 

Foram analisados 4.949 pacientes que receberam TAVI entre 2007 e 2018. Dentre eles, 4016 (81,1%) tiveram como segundo acesso o femoral (SAF), ao passo que os 933 restantes tiveram o radial como segundo acesso (SAR).

Os grupos foram similares, a idade média foi de 81 anos, mas nos pacientes em que se utilizou SAF houve mais mulheres e o escore STS foi maior (4,9% vs. 4,7%; p = 0,032). Nos pacientes em que se realizou SAR houve maior presença de doença coronariana e CRM. 


Leia também: ACC 2019 | SAFARI: surpreendentemente, o acesso radial não oferece vantagens no infarto.


As válvulas de primeira geração foram mais frequentes nos que receberam SAF e não houve diferença em termos de sucesso do procedimento. 

A incidência de complicações vasculares (CV) globais foi de 16,9%, sendo a de complicações vasculares maiores (CV>) de 5,7%. A incidência total de CV do acesso secundário foi de 3,5% e a de CV> do acesso secundário de 1,3%.

A taxa de complicações vasculares do acesso secundário foi maior no acesso femoral (4,1% vs. 0,9%; p < 0,001). Além disso, também foi mais elevada a taxa de complicações maiores no acesso femoral (1,6% vs. 0%; p > 0,01).


Leia também: São seguros os introdutores dedicados para acesso radial 7F?


Foi feito um propensity score e manteve-se mais elevada a taxa de complicações vasculares e complicações vasculares maiores nos pacientes em que se utilizou SAF (4,7% vs. 0,9%; p < 0,001; e 1,8% vs. 0%; p < 0,001).

Em 30 dias o SAF apresentou maior taxa de AVC (3,1% vs. 1,6%; p = 0,043), insuficiência renal aguda (9,9% vs. 5,7%; p < 0,001) e mortalidade (4% vs. 2,4%; p = 0,047).

Conclusão

A utilização do acesso secundário radial no TAVI se associou a uma redução das complicações vasculares, do sangramento e a melhores resultados em 30 dias. Justifica-as a realização de estudos randomizados no futuro. 

Gentileza do Dr. Carlos Fava.

Título Original: Comparison of Transfemoral Versus Transradial Secondary Access in Transcatheter Aortic Valve Replacement.

Referência: Lucía Junquera, et al. Circ Cardiovasc Interv. 2020;13:e008609. DOI: 10.1161/CIRCINTERVENTIONS.119.008609.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

AHA 2025 | DECAF: consumo de café vs. abstinência em pacientes com FA — recorrência ou mito?

A relação entre o consumo de café e as arritmias tem sido objeto de recomendações contraditórias. Existe uma crença estendida de que a cafeína...

AHA 2025 | Estudo OCEAN: anticoagulação vs. antiagregação após ablação bem-sucedida de fibrilação atrial

Após uma ablação bem-sucedida de fibrilação atrial (FA), a necessidade de manter a anticoagulação (ACO) a longo prazo continua sendo incerta, especialmente considerando que...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...