Sobrevivendo à COVID-19 com a velha heparina?

Os pacientes que são admitidos no hospital com diagnóstico de COVID-19 têm um alto risco de trombose, particularmente de trombose venosa. Esse dado não é nenhuma novidade: uma metanálise de 66 estudos já avaliou a prevalência de trombose venosa em pacientes com COVID-19 e encontrou uma incidência de entre 14,1% e 22,7% para aqueles que precisam de cuidados intensivos. 

¿Sobreviviendo al COVID-19 con la vieja heparina?

A hipercoagulabilidade é uma das primeiras características que descrevemos deste novo vírus, bem como a associação entre os níveis de Dímero D e a mortalidade. 

Até aqui, nada de novo. O problema era como levar essa informação ao cenário clínico diminuindo a trombose e a embolia mas sem pagar o sempre temido (e alto) preço dos sangramentos. 

Setenta e cinco estudos clínicos foram registrados para testar diferentes esquemas e agentes antitrombóticos. Os mais frequentes foram a heparina convencional e as heparinas de baixo peso molecular. 

O estudo INSPIRATION comparou a dose intermediária com a dose padrão profilática de heparina de baixo peso molecular em 562 pacientes com indicação de cuidados intensivos. O desfecho primário, que incluiu eventos trombóticos e inclusive morte, foi similar entre ambos os esquemas, mas com mais sangramentos para a dose intermediária. 

O estudo RAPID testou heparina em dose terapêutica vs. heparina em faixa de anticoagulação (ambos os esquemas com heparina de baixo peso molecular e com heparina não fracionada). O desfecho novamente foi similar no que se refere aos eventos trombóticos, mas com uma menor mortalidade para a faixa anticoagulante em 28 dias. 


Leia também: A melhor revascularização em pacientes com deterioração do ventrículo esquerdo.


Recentemente foi publicado no NEJM um estudo de randomização convencional, o ACTIV-4a, e dois estudos com randomização adaptativa, o REMAP-CAP e o ATTACC

Um deles fez foco em pacientes com doença severa e os outros dois em pacientes com doença moderada por COVID-19.

Em dois dos trabalhos foram testados os potenciais benefícios de doses terapêuticas de heparina (90% com heparina de baixo peso molecular) vs. tromboprofilaxia padrão. 

Os resultados discreparam significativamente entre os pacientes severamente doentes e aqueles com doença moderada, embora sempre pagando um preço em termos de sangramento. 

Com um grande arsenal fisiopatológico e metodológico para tentar explicar as diferenças, em breve analisaremos esses artigos que podem representar uma nova virada no tratamento da COVID-19.

Título original: Surviving Covid-19 with Heparin?

Referência: Hugo ten Cate. NEJM August 4, 2021. DOI: 10.1056/NEJMe2111151.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

Vale a pena a 3ª dose contra a COVID-19 para todas as idades?

A resposta é contundente: sim, vale a pena. Em todas as faixas etárias estudadas a taxa de confirmados para COVID-19 e doentes severos foi...

Eficácia da 3ª dose da Pfizer contra a Ômicron

A vacina BNT162b2 (Pfizer/BioNTech) demonstrou previamente 95% de eficácia contra a infecção por COVID-19. Esta eficácia foi variando com o surgimento das diferentes variantes...

A variante Ômicron coloca novamente os sistemas de saúde no limite, mas com esperanças

A última variante de importância da COVID-19, a cepa Ômicron, está novamente colocando o sistema mundial de saúde à beira do colapso, superando 300...

Os artigos mais lidos de 2021 | COVID-19

Mais um chega ao fim e a SOLACI propõe repassar os trabalhos mais lidos da nossa web em um tópico muito importante, que é...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Resultados a longo prazo do Registro internacional de Chaminés (Chimney Registry)

O registro internacional Chimney (ou Chaminés) foi um estudo observacional dedicado a avaliar o uso do chimney stenting durante o procedimento de TAVI, tanto...

CANNULATE TAVR extended study: Impacto do alinhamento comissural e coronariano na canulação das coronárias após o TAVI com Evolut Fx

A nova válvula Evolut FX demonstrou um melhor alinhamento comissural em comparação com sua predecessora, a Evolut Pro+. Estudos prévios já tinham evidenciado que...

Capacitação técnica semipresencial em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista SOLACI-CACI

Abrimos as inscrições para uma nova edição do Curso SOLACI-CACI 2025 semipresencial em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista para Técnicos e Enfermeiros. Veja abaixo toda a...