Em pacientes convalescentes de COVID-19, tanto a injúria miocárdica aguda quanto a crônica impactam na sobrevida no seguimento de 6 meses. Além disso, embora o pico de risco se encontre no período mais precoce, não se restringe a este e pode chegar a vários meses mais.
Assim expressou este trabalho apresentado nas sessões científicas do ESC 2021 e simultaneamente publicado no European Heart Journal – Quality of Care & Clinical Outcomes.
O grau de injúria miocárdica se baseou em exames seriados de troponinas cardíacas entre as 48 e as 72 horas do diagnóstico utilizando os critérios da 4ª Definição Universal de Infarto.
É comum monitorar as troponinas em pacientes hospitalizados (para além da COVID-19), já que esse procedimento mostrou seu valor prognóstico em pacientes críticos. Sobre isso há muita informação na literatura. O que ainda faltava era uma avaliação sistemática dos diferentes padrões de avaliação em um estudo de grande escala.
Assim, neste estudo foram identificados 7815 pacientes admitidos em um centro de grande envergadura da cidade de Nova York entre fevereiro e outubro de 2020. Todos eles tinham diagnóstico confirmado de COVID-19. Do total, a análise de troponina esteve disponível em 4695 casos (60%).
A injúria miocárdica foi caracterizada como crônica se a troponina se encontrava elevada no primeiro registro e nos subsequentes com uma variação de mais de 20%; foi considerada aguda se os marcadores eram normais na primeira análise e depois se elevaram ao menos 50% ou se ocorriam elevações seriadas de mais de 20%.
Baseando-se em tais definições, 6,8% da população evidenciou injúria crônica, que se associou com mais insuficiência renal e mais insuficiência cardíaca.
Por outro lado, quase 25% da população mostrou valores na faixa da injúria miocárdica aguda, o que se associou a taquipneia, hipotensão, dessaturação de O2 e a maiores níveis de marcadores de inflamação.
A mortalidade global foi de 23,6%.
Quando observamos no seguimento de 6 meses os números daqueles pacientes com troponinas normais, a mortalidade se reduz praticamente à metade (13%). Isso se explica por uma taxa de 43% entre os que apresentaram injúria crônica (HR 4,17; IC 95% 3,44 a 5,06) e de 47,3% para os que evoluíram com injúria aguda (HR 4,72; IC 95% 4,15 a 5,36).
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Após excluir da análise os primeiros 30 dias nos quais se vê o pico de eventos, os pacientes ainda continuavam com um risco de morte até os 6 meses.
Isso ocorreu em ambos os padrões de injúria, com aproximadamente o triplo de mortalidade que o grupo com troponinas normais.
Os resultados deste estudo são de especial importância para os cardiologistas clínicos, já que deles se desprende a necessidade de realizar um monitoramento mais estreitos desses pacientes uma vez que recebem alta do hospital.
Ainda com as limitações de ser um trabalho observacional e retrospectivo (com o consequente risco de superestimar a prevalência de injúria miocárdica), este é por enquanto um dos melhores trabalhos que temos sobre o tema.
esc2021types-of-myocardial-injury-and-mid-term-outcomes-in patients-with-COVID-19Título original: Types of myocardial injury and mid-term outcomes in patients with COVID-19.
Referência: Annapoorna Kini et al. Eur Heart J Qual Care Clin Outcomes. 2021 Aug 30;qcab053. Online ahead of print. doi: 10.1093/ehjqcco/qcab053.
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