Carótida assintomática e deterioração cognitiva: qual o papel da intervenção?

Este trabalho foi desenhado com o objetivo de determinar o efeito de uma endarterectomia carotídea ou de uma angioplastia sobre a função cognitiva precoce (basal vs. 3 meses) em pacientes com lesões assintomáticas. 

A pesquisa sistemática incluiu 31 trabalhos não randomizados. 

No período pós-operatório, 24 desses trabalhos relataram uma melhora significativa da função cognitiva; 1 estudo relatou uma deterioração significativa; 3 mostraram resultados mistos (alguns escores melhoraram e outros pioraram) e o resto não evidenciou mudanças. 

Em um período mais afastado do procedimento (endarterectomia ou angioplastia), um trabalho relatou uma pior condição, outro mostrou uma melhora significativa, alguns obtiveram resultados mistos e a maioria não constatou nenhuma mudança com relação ao estado basal. 

Esses resultados mostram uma distribuição similar quando são comparados estudos pequenos com outros maiores, estudos controlados vs. não controlados, estudos que utilizaram endarterectomia vs. outros que usaram angioplastia e estudos com seguimento mais ou menos longo. 


Leia também: HOST-EXAM: O estudo que desafia a aspirina como antiagregante a longo prazo.


Conclusão

A intervenção, seja endarterectomia, seja angioplastia, raramente melhora a função cognitiva a longo prazo (<2%). Por outro lado, raramente a pioram (de fato, a magnitude é similar: 2%).

A grande maioria dos trabalhos (69%) não pôde provar uma melhora da função cognitiva a longo prazo. Apenas alguns poucos estudos mostraram melhoras. O resto não relatou mudanças. 

Enquanto não tivermos novos trabalhos que identifiquem melhor os pacientes mais vulneráveis (escassa reserva funcional) ou que proporcionem evidência clara de que a embolia silente a partir de uma carótida doente efetivamente leva à deterioração cognitiva, vamos continuar em um mar de especulações. 

Título original: Effect of Carotid Interventions on Cognitive Function in Patients With Asymptomatic Carotid Stenosis: A Systematic Review.

Referência: Stefano Ancetti et al. Eur J Vasc Endovasc Surg. 2021 Aug 30;S1078-5884(21)00604-3. Online ahead of print. doi: 10.1016/j.ejvs.2021.07.012. 


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

Tratamento percutâneo da valva pulmonar com válvula autoexpansível: resultados do seguimento de 3 anos

A insuficiência pulmonar (IP) é uma doença frequente em pacientes que foram submetidos a reparação cirúrgica da Tetralogia de Fallot ou outras patologias que...

Ensaio RACE: efeito da angioplastia com balão e riociguate na pós-carga e função do ventrículo direito na hipertensão pulmonar tromboembólica crônica

Embora a endarterectomia pulmonar seja o tratamento de escolha para a hipertensão pulmonar tromboembólica crônica (HPTEC), até 40% dos pacientes não são candidatos elegíveis...

Principais estudos do segundo dia do ACC 2025

BHF PROTECT-TAVI (Kharbanda RK, Kennedy J, Dodd M, et al.)O maior ensaio randomizado feito em 33 centros do Reino Unido entre 2020 e 2024...

ACC 2025 | API-CAT: Anticoagulação estendida com dose reduzida vs. plena de Apixabana em pacientes com DTV associada ao câncer

O risco de recorrência da doença tromboembólica venosa (DTV) associada ao câncer diminui com o tempo, ao passo que risco de sangramento persiste. Atualmente...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Veja as melhores imagens das Jornadas Uruguai 2025

Aproveite os melhores momentos das Jornadas Uruguai 2025, realizadas no Hotel Radisson de Montevidéu (Uruguai) nos dias 7, 8 e 9 de maio de...

Tratamento percutâneo da insuficiência mitral funcional atrial

A insuficiência mitral (IM) por dilatação atrial funcional (AFMR) é uma afecção que representa aproximadamente um terço dos casos de insuficiência mitral, associando-se com...

Tabagismo e seu impacto na doença cardiovascular 10 anos depois de uma angioplastia coronariana

O tabagismo é um fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares ateroscleróticas. Alguns relatórios históricos sugeriram, no entanto, um menor...