O termo viabilidade miocárdica, a partir de uma perspectiva celular, se refere ao miócito que não apresenta dano irreparável. A partir de uma perspectiva clínica, refere-se àquelas áreas de disfunção miocárdica contrátil em repouso nas quais se espera uma melhora com uma correta revascularização.
Existem índices específicos de isquemia e viabilidade próprios do vaso que poderiam identificar zonas de hibernação passíveis de tratamento. Assim, surgiram metodologias como a análise de intensidade de onda coronariana (AIOc), que usa de maneira simultânea a pressão e o Doppler para medir o fluxo de energia na perfusão miocárdica, que pode ser por ondas anterógradas (a partir da aorta) ou retrógradas (a partir da microcirculação), como a onda de compressão retrógrada (BCW).
O objetivo deste estudo foi investigar se a AIOc pode determinar de maneira precisa a viabilidade em pacientes com cardiopatia isquêmica estável tratados com tratamento médico ótimo (com ou sem revascularização).
Foram incluídos pacientes de centros do Reino Unido com fração de ejeção ≤ 40% e com doença coronariana extensa segundo a British Cardiovascular Interventional Society. Excluíram-se as síndromes coronarianas agudas dentro dos 4 meses, com contraindicação para Ressonância Cardíaca (RMC), valvoplastia severa ou pacientes com anatomia de difícil avaliação (oclusões totais ou lesões severas). Analisaram-se as medicações com diretrizes Combowire ou Philips Volcano.
Foram recrutados 40 pacientes, que foram submetidos a estudos de 61 vasos com uma estenose média de 72%. Por sua vez, estes também foram submetidos a ecocardiograma basal e RMC com realce tardio (LGE). A viabilidade miocárdica foi observada em 50% dos casos; a mudança na motilidade parietal, conforme ecocardiograma, foi de – 0,75 (- 0,55 a – 1,13) nos viáveis e 0 nos não viáveis (p ≤ 0,001).
A BCW apresentou uma boa posição para a predição de viabilidade (área abaixo da curva de 0,812), com um ponto de corte de – 2500 W m-2 s-1. Ao ser comprado com um índice de viabilidade validado como a área de cicatriz por RMC-LGE, a BCW apresentou uma área abaixo da curva similar (p = 0,588).
Na análise multivariada observou-se que a BCW e a melhora do tratamento médico foram os únicos preditores de recuperação funcional no seguimento.
Conclusões
No recente estudo REVIVED-BCIS2 evidenciou-se que a angioplastia dirigida por viabilidade (evidenciada através de RMC ou ecoestresse com dobutamina) não melhorou os desfechos clínicos em comparação com o tratamento médico ótimo em pacientes estáveis.
No entanto, a partir deste trabalho apresentado por Ryan et al, o foco é posto na análise segundo o vaso (diferentemente da análise segundo a região de outros trabalhos) de uma maneira invasiva. No mesmo, foi possível observar que existem índices que apresentam uma adequada sensibilidade para avaliar a viabilidade, o que pode ser útil de forma complementar à coronariografia na escolha do tratamento. Falta observar o impacto clínico a longo prazo que gera o tratamento desta difícil patologia.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do conselho editorial da SOLACI.org.
Título Original: Coronary Wave Intensity Analysis as an Invasive and Vessel-Specific Index of Myocardial Viability.
Referência: Ryan M, De Silva K, Morgan H, O’Gallagher K, Demir OM, Rahman H, Ellis H, Dancy L, Sado D, Strange J, Melikian N, Marber M, Shah AM, Chiribiri A, Perera D. Coronary Wave Intensity Analysis as an Invasive and Vessel-Specific Index of Myocardial Viability. Circ Cardiovasc Interv. 2022 Dec;15(12):e012394. doi: 10.1161/CIRCINTERVENTIONS.122.012394. Epub 2022 Dec 20. PMID: 36538582; PMCID: PMC9760472.
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