Fisiologia coronariana após a intervenção na valva aórtica

Impacto na avaliação do fluxo coronariano após a intervenção na valva aórtica. 


O fluxo miocárdico pode sofrer comprometimento nos pacientes com estenose aórtica severa, que pode se dever a doença coronário-aterosclerótica concomitante ou a um comprometimento do leito capilar. A circulação capilar poderia sofrer comprometimento pelo aumento da massa ventricular esquerda (MVE), o que geraria uma alteração na reserva de fluxo coronariano (CFR). 

Fisiología coronaria posterior a la intervención en la válvula aórtica

Com uma adequada intervenção valvar, múltiplos estudos demonstraram com distintos métodos de imagens a regressão da MVE. No entanto, não está determinado de maneira clara qual é o impacto na circulação coronariana e em suas medições fisiológicas. 

O objetivo do trabalho de Sabbah M et al. foi pesquisar o impacto de um TAVI ou cirurgia de substituição da valva aórtica (SAVR) na CFR e também pesquisar se ditas mudanças têm relação com uma diferença no índice stroke work (média do gradiente médio transvalvar e do stroke volume do VE) do ventrículo esquerdo (LVSW). 

Tratou-se de um estudo prospectivo observacional de dois centros dinamarqueses. Foram excluídos os pacientes com função ventricular ≤ 45%, com filtração glomerular ≤ 30 ml/min, que apresentaram lesões coronarianas associadas e aqueles com alguma outra valvopatia moderada/severa. Foi utilizada a coronariografia para a medição de CFR e ressonância cardíaca antes da intervenções e 6 meses após a mesma. 

Leia também: Rivaroxabana nas síndromes coronarianas agudas.

Os índices avaliados (somente na artéria descendente anterior) foram o CFR, o índice de resistência microcirculatória (IMR) com PressureWire X, o fluxo coronariano em hiperemia (QLAD) e a resistência mínima microvascular (Rμ,LAD) com cateter de infusão RayFlow. Usou-se o tempo médio de trânsito (MTT) como uma medição substituta do fluxo volumétrico. 

Foram analisados 34 pacientes com uma idade média de 72 ± 8 anos, 71% tricúspides, 50% com TAVI, 41% com SAVR com válvula biológica e 9% com válvula mecânica. 50% dos pacientes não apresentaram hipertrofia ventricular na medição com RM.  

No seguimento observou-se uma diminuição média de 18,5 g/m2 (Δ20%) no índice de massa ventricular (p ≤ 0,001), que objetivado com RM observou-se diminuição do LVSW de 20,8 a 17,9 cJ (p = 0,04). As medições de fluxo fracionado de reserva (FFR), IMR, QLAD e Rμ,LAD não se alteraram de maneira significativa no seguimento. 

Leia também: Relação entre o tratamento médico e os resultados clínicos a longo prazo após uma intervenção vascular periférica.

A CFR melhorou significativamente em 71% dos pacientes (82% dos pacientes submetidos a TAVI e 59% a SAVR). Dita melhora ocorreu quase sem mudanças apreciáveis no fluxo hiperêmico (QLAD; 230 ± 106 mL/min a 250 ± 101mL/min; p = 0,26) ou nas resistências microvasculares mínimas (Rμ,LAD; 347 [247-463] a 287 [230-456]; p = 0,20). O MTT de repouso foi maior, ao passo que o MTT em hiperemia não sofreu alterações. 

Conclusões

Neste estudo foram observados os efeitos a longo prazo na fisiologia coronariana na descendente anterior após a intervenção, tanto com TAVI como com SAVR. A CFR aumentou de maneira significativa, sem apresentar alterações em QLAD e Rμ,LAD e dito aumento se associou principalmente a uma redução em LVSW.

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Long-term changes in coronary physiology after aortic valve replacement.

Referência: Sabbah M, Olsen NT, Holmvang L, et al. Long-term changes in coronary physiology after aortic valve replacement [published online ahead of print, 2022 Oct 13]. EuroIntervention. 2022;18(14):1156-1164. doi:10.4244/EIJ-D-22-00621.


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