A estenose aórtica (EAO) é uma doença comum que compartilha fatores de risco com a doença coronariana. Ambas as doenças podem se desenvolver simultaneamente em muitos pacientes, o que aumenta o risco de ocorrência de infarto agudo do miocárdio.
A EAO aórtica pode causar isquemia inclusive em ausência de doença coronariana devido à hipertrofia ventricular, ao aumento das cargas ventriculares e aos transtornos na microcirculação.
A presença de uma EAO moderada em uma síndrome coronariana aguda pode influir na evolução clínica. Embora existam várias publicações sobre o tema, não está claramente definida qual é a melhor estratégia a seguir, já que os guias atuais não proporcionam pautas específicas a esse respeito.
Foi levada a cabo uma análise retrospectiva de 1.373 pacientes que apresentaram uma síndrome coronariana aguda, com ou sem supradesnivelamento do ST, entre 2005 e 2016. Dentre eles, 183 (13,3%) apresentaram estenose aórtica moderada, ao passo que os 1190 restantes não apresentaram a doença ou tiveram uma manifestação leve da mesma.
Os pacientes com EAO moderada eram de uma faixa etária mais alta e tinham uma maior prevalência de comorbidades como diabete, hipertensão, dislipidemia, infarto, cirurgia de revascularização miocárdica (CRM), AVC, deterioração da função renal e uma fração de ejeção do ventrículo esquerdo mais baixa (48,3 ± 13,5 vs. 51,4 ± 12,3; p = 0,006).
Não foram observadas diferenças no tocante ao acesso utilizado, mas o número de vasos doentes e a quantidade de stents empregados foram maiores nos pacientes com estenose aórtica moderada.
Durante a hospitalização não houve diferenças quanto à mortalidade ou choque cardiogênico entre os grupos, mas a presença de insuficiência cardíaca foi maior nos pacientes com estenose aórtica moderada em comparação com aqueles sem estenose ou com estenose leve.
Em um ano de seguimento a mortalidade foi maior no grupo com estenose aórtica moderada (23,9% vs. 8,1%; p < 0,001), bem como as hospitalizações por insuficiência cardíaca (8,3% vs. 3,7%; p = 0,028).
Durante as hospitalizações por insuficiência cardíaca a mortalidade foi maior nos pacientes com estenose aórtica moderada no âmbito hospitalar e também em um ano, mas não houve diferenças nos pacientes com estenose aórtica leve ou sem estenose.
Na análise multivariada a presença de estenose aórtica moderada se associou com um aumento de 2,4 vezes na mortalidade em pacientes com síndrome coronariana aguda, com ou sem supradesnivelamento do segmento ST e estenose aórtica moderada.
Conclusão
A presença de estenose aórtica moderada em pacientes com infarto agudo do miocárdio se associou a uma evolução clínica desfavorável durante a hospitalização e em um ano de seguimento. Esses achados ressaltam a importância de um seguimento mais intensivo desses pacientes e de determinar a melhor estratégia de tratamento baseada nas condições existentes.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: The impact of moderate aortic stenosis in acute myocardial infarction: A multicenter retrospective study.
Referência: Abraham, et al.Catheter Cardiovasc Interv. 2023;102:159–165.
Subscreva-se a nossa newsletter semanal
Receba resumos com os últimos artigos científicos