A calcificação coronariana (CAC) é um achado cada vez mais frequente em pacientes submetidos a angioplastia coronariana (PCI). A litotripsia intravascular (IVL) se consolidou como uma ferramenta eficaz para modificar a placa calcificada, agindo tanto sobre o cálcio superficial como sobre o profundo das paredes vasculares. As microfraturas geradas facilitam a preparação da lesão com balões não complacentes e permitem a colocação de stents, otimizando assim o ganho luminal.
Apesar de seu uso estendido, os fatores que determinam o sucesso da IVL continuam sem estar completamente esclarecidos. O objetivo deste estudo foi identificar os fatores clínicos e do procedimento associados com o ganho luminal (GL) adequado e com o sucesso angiográfico definido como uma estenose residual < 30%, em pacientes de um registro multicêntrico internacional de IVL.
Van Oort, Martijn JH, et al. analisaram dados retrospectivos do registro BENELUX-IVL, que incluiu pacientes tratados com PCI e IVL (shockwave) em sete centros europeus. A calcificação coronariana foi classificada como leve, moderada ou severa mediante angiografia, IVUS ou OCT.
O objetivo primário foi o sucesso do tratamento, definido como uma estenose residual < 30% e um adequado GL medido por QCA. Os objetivos secundários incluíram eventos cardiovasculares maiores (MACE) e complicações relacionadas com o procedimento.
A coorte incluiu 454 pacientes, com uma idade média de 73,2 anos, dentre os quais 75% eram homens. 56% apresentaram síndrome coronariana crônica, com um escore de SYNTAX médio de 22. A artéria descendente anterior foi a mais tratada (44%).
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O diâmetro médio do cateter IVL foi de 3,5 ± 0,5 mm, administrando-se aproximadamente 80 pulsos por lesão. A pré e pós-dilatação a alta pressão foi feita em 93% e 94% dos casos, respectivamente, e em 16% foi completada com outra técnica de modificação da placa, principalmente aterectomia rotacional. Após a IVL, 77% dos pacientes foram submetidos a implante de um stent e 13% de um balão farmacológico. As imagens intravasculares foram utilizadas em 52% dos casos.
A análise por QCA mostrou uma melhora significativa no diâmetro mínimo do lúmen (MLD) (p < 0,001) e uma redução na porcentagem de estenose residual (p < 0,001), com um ganho luminal médio de 1,9 ± 0,9 mm. O sucesso angiográfico foi alcançado em 90% dos casos (estenose residual < 30%), com apenas 1% de complicações diretamente relacionadas com a IVL.
No acompanhamento realizado durante um ano, 13% dos pacientes apresentaram MACE, principalmente revascularização guiada por isquemia. No entanto, dita porcentagem foi significativamente menor nos pacientes com estenose residual < 30% (HR = 0,320, IC 95%: 0,114−0,898; p = 0,030).
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A análise multivariada identificou como preditores independentes de maior ganho luminal o implante de stent pós-IVL (p < 0,001), o uso de imagens intravasculares (p = 0,024) e a presença de oclusões totais crônicas (CTO (P < 0,001). Ao contrário, as lesões em bifurcação se associaram a um menor ganho luminal (p = 0,027).
No tocante aos preditores de sucesso (estenose residual < 30%), foram identificados o implante de stent e o tratamento de lesões longas como fatores favoráveis, ao passo que as lesões aorto-ostiais impactaram negativamente nos resultados. Nem os valores de pressão na insuflação (p = 0,599) nem a quantidade de pulsos administrados (p = 0,412) se associaram significativamente com o GL ou com a estenose residual.
Conclusões
O sucesso técnico da IVL, definido como uma estenose residual < 30%, foi alcançado principalmente em lesiones longas e com uso de stent. Além disso, a combinação de imagens intravasculares e o stenting se associou com um maior ganho luminal, otimizando os resultados do procedimento e reduzindo os eventos adversos a longo prazo.
Título Original: Clinical and Technical Predictors of Treatment Success After Coronary Intravascular Lithotripsy in Calcific Coronary Lesions.
Referência: van Oort, Martijn JH, et al. “Clinical and Technical Predictors of Treatment Success After Coronary Intravascular Lithotripsy in Calcific Coronary Lesions.” Catheterization and Cardiovascular Interventions (2025).
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