A ablação por campo pulsado (PFA) surgiu como uma técnica promissora no tratamento da fibrilação atrial, graças a sua capacidade de gerar lesões miocárdicas precisas com um perfil de segurança superior ao da ablação convencional. Trata-se de um método não térmico que oferece maior especificidade tissular.

No entanto, sua aplicação extrapulmonar – como nos territórios do istmo cavo-tricúspide (ICT) ou no istmo mitral (IM) – despertou preocupação em estudos iniciais devido à possibilidade de espasmo nas coronárias pela proximidade dessas estruturas aos vasos epicárdicos.
Nesse contexto, Tam et al. publicaram um estudo observacional que avaliou, mediante OCT, as mudanças estruturais imediatas e a curto prazo em artérias coronárias submetidas a PFA.
Foram incluídos 21 pacientes tratados com PFA por flutter atrial, dentre os quais 19 completaram a série de estudos de imagem antes, durante e três meses depois do procedimento. Como parte do protocolo, administrou-se nitroglicerina (NTG) de maneira preventiva nas artérias correspondentes.
Em três meses, observou-se, na zona da ablação, um incremento significativo da área da parede vascular (WA), que passou de 2,69 mm² a 3,21 mm², equivalente a uma remodelação de 17,1% (p < 0,01). Paralelamente, a área luminal corrigida (cLA) se reduziu de 6,92 mm² a 5,41 mm², o que representou uma diminuição de 10,1% (p < 0,001).
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Tais alterações estruturais não se destacaram nas zonas de referência remotas, onde a parede vascular se manteve sem variações significativas (ΔWA: 0,12 mm²; p = 0,926) e a área luminal corrigida permaneceu estável.
No tocante ao espasmo agudo das coronárias, o mesmo foi documentado em 75% dos vasos (leve em 15% dos casos, moderado também em 15% e severo em 45%). A redução luminal aguda mostrou uma tendência não significativa de se correlacionar com a perda de lúmen em três meses (r = 0,41; p = 0,08), o que sugere um possível vínculo fisiopatológico entre o espasmo e a remodelação vascular.
Embora em termos percentuais as modificações estruturais em três meses não pareçam marcantes (10,1% na área luminal corrigida), seu impacto clínico poderia ser relevante em pacientes com doença coronariana pré-existente, ao modificar o prognóstico de lesões intermediárias ou severas.
Apesar de não terem sido registrados eventos maiores a curto prazo – como infarto do miocárdio ou morte cardiovascular –, é fundamental realizar um monitoramento prolongado, já que se desconhece o efeito clínico a longo prazo dessas alterações estruturais induzida por PFA.
Conclusões
A ablação por campo pulsado em flutter atrial (CTI/IM), aplicada perto de artérias coronárias, pode induzir uma remodelação vascular subclínica, o que justifica a necessidade de um seguimento prolongado nessa população. Este estudo foi o primeiro a demonstrar, de maneira quantitativa e mediante OCT seriado, um impacto potencialmente adverso da PFA.
Título original: Effect of Pulsed-Field Ablation on Human Coronary Arteries. A Longitudinal Study With Intracoronary Imaging.
Referência: Tam MTK, Chan JYS, Chan CP, Wu EB, Lai A, Au ACK, Chi WK, Tan G, Yan BP. Effect of Pulsed-Field Ablation on Human Coronary Arteries: A Longitudinal Study With Intracoronary Imaging. JACC Clin Electrophysiol. 2025 Jul;11(7):1478-1488. doi: 10.1016/j.jacep.2025.03.014. Epub 2025 Apr 24. PMID: 40278817.
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