A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao território coronariano, onde seu uso continua sendo de caráter off-label. O registro COILSEAL, liderado por Cerrato et al., oferece a primeira visão multicêntrica sobre os resultados hospitalares e o seguimento a médio prazo em procedimentos que empregam coils durante a angioplastia coronariana. Os dados provêm de 17 centros de alto volume da Itália e da Espanha.

O emprego de coils em artérias coronarianas apresenta duas indicações principais. A primeira, e mais frequente, é o manejo de perfurações coronarianas distais, habitualmente originadas pelo avanço inadvertido de guias em territórios pequenos ou frágeis, especialmente no contexto de oclusões crônicas. Tais perfurações, por seu caráter distal, não são tratáveis com oclusão percutânea de aneurismas ou fístulas coronarianas, situações nas quais o stent recoberto pode ser técnica ou anatomicamente inviável.
Do ponto de vista técnico, o coiling coronariano é feito mediante microcateteres que podem ser posicionados imediatamente acima do ponto de extravasamento, sendo a liberação do coil feita de forma progressiva até, até que se alcance a detenção completa do fluxo. No registro COILSEAL, a grande maioria dos dispositivos utilizados foram coils desacopláveis (94%), devido à maior possibilidade controlar a sua liberação. Os coils empurráveis, ao contrário, foram utilizados exclusivamente em perfurações e representaram somente 6% dos casos.
Nas perfurações coronarianas, o número médio de coils utilizados por paciente foi de 1,89 ± 0,87, com um comprimento médio de 5,95 ± 3,72 cm e uma espessura média de 2,51 ± 0,90 mm. A escolha de um menor comprimento e calibre responde à necessidade de ocluir segmentos distais e delicados sem comprometer ramos laterais nem induzir uma propagação trombótica.
O registro incluiu 143 pacientes nos quais foi necessário implantar coils (0,06% do total de angioplastias). 79% dos casos corresponderam a perfurações e 21% a aneurismas ou fístulas. A coorte esteve composta por pacientes de alto risco, com uma idade média de 71 anos, predomínio masculino (71%) e elevada prevalência de doença multivaso e oclusões crônicas.
O desfecho primário foi o sucesso técnico, definido como a ausência de extravasamento de contraste ao finalizar o procedimento. Foi registrado um rendimento notável de 95,7%, sem diferença entre perfurações e aneurismas/fístulas. O sucesso do procedimento (sucesso técnico sem eventos clínicos intra-hospitalares maiores) foi menor nas perfurações (83,5% vs. 96,6%), algo esperável considerando a gravidade potencial da complicação. Ainda assim, a mortalidade intra-hospitalar foi baixa e a necessidade de cirurgia de emergência foi excepcional (1,4%).
No seguimento a médio prazo (mediana de 2,4 anos), a incidência de falha do vaso tratado foi de 11,4%, sem diferenças significativas entre os grupos. Observou-se uma maior taxa de revascularização guiada por isquemia em casos de aneurismas ou fístulas, o que tem relação com a maior complexidade biológica dessas lesões. A mortalidade cardíaca se manteve baixa (4,9%) e a incidência de sangramento maior segundo os critérios BARC não mostrou diferenças relevantes.
Conclusões
Os resultados do registro COILSEAL permitem concluir que o uso de coils no âmbito coronariano constitui uma estratégia segura, eficaz e com taxas muito elevadas de sucesso técnico, inclusive em cenários altamente complexos. Graças a seu tamanho e caráter multicêntrico, este registro contribui com evidência científica robusta para respaldar uma prática que até agora se sustentava principalmente em séries pequenas e na experiência individual de operadores.
Título original: Contemporary Use of Coils During Percutaneous Coronary Intervention: Insights From the Multicenter COILSEAL Registry.
fonte: Cerrato E, Piedimonte G, Franzino M, Marengo G, Bollati M, Zecchino S, Rutigliano D, Soriano F, Leoncini M, Mangione R, Sagazio E, Maiellaro F, Jeva F, Ussia GP, Scudiero F, Franzè A, Barbero U, Calderone D, Nicolino A, Ugo F, La Manna A, Costa F, Mazzarotto P, Amat-Santos IJ, Varbella F; CardioGroupVIII‐COILSEAL Study Group. Contemporary Use of Coils During Percutaneous Coronary Intervention: Insights From the Multicenter COILSEAL Registry. Catheter Cardiovasc Interv. 2025 Oct 21. doi: 10.1002/ccd.70233. Epub ahead of print. PMID: 41121637.
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