Diabéticos com múltiplos vasos, é preciso continuar esperando.

Título original: Strategies for Multivessel Revascularization in Patients with Diabetes. The FREEDOM Trial. Referência: Michael E. Farkouh et al. N Engl J Med 2012. DOI: 10.1056/NEJMoa1211585

Este trabalho foi concebido para determinar a melhor estratégia de revascularização em pacientes diabéticos com múltiplos vasos utilizando as técnicas atuais de angioplastia (PCI) e cirurgia (CABG). 

Randomizou 1:1 pacientes diabéticos com lesão > 70% em dois ou mais vasos epicárdicos maiores, excluindo lesão de tronco da coronariana esquerda, com um acompanhamento mínimo de 2 anos.

Foram utilizados stents liberadores de sirolimus ou paclitaxel (segundo opção do operador), foi recomendada a utilização de abciximab e a antiagregação dupla por pelo menos um ano. Para os pacientes que receberam CABG f oi recomendada revascularização arterial. O tratamento médico foi concluído com um objetivo de LDL

O desfecho primário foi uma combinação de morte por qualquer causa, infarto e AVC. Os eventos cardiovasculares e vascular cerebral maiores após 30 dias e após um ano (some-se aos anteriores a revascularização) foi o desfecho secundário mais importante. Entre abril de 2005 e 2010 foram randomizados 1.900 pacientes entre 3.309 viáveis. A média de idade foi de 63,1±9,1, dos quais 83% tinha doença de três vasos e a média de score de Syntax foi de 26,2±8,6.

Foram utilizados stents liberadores de sirolimus no 51% e liberadores de paclitaxel em 43% do ramo PCI. A porcentagem restante foi de outros stents medicamentosos. O tempo médio de acompanhamento foi de 3,8 anos. O desfecho primário se apresentou em 26,6% do grupo PCI em contraste com 18,7% do grupo CABG com uma diferença absoluta a favor de CABG de 7,9 pontos (p=0,005) em cinco anos. As curvas começaram a separar-se após 2 anos de acompanhamento.

Considerando os componentes do desfecho primário por separado em 5 anos, a morte por qualquer causa foi maior com PCI (16,3% em contraste com 10,9% p=0,049) assim como o infarto de miocárdio (13,9% em contraste com 6% p<0,001); o AVC; por outro lado, foi maior com CABG (5,2% em contraste com 2,4% p=0,03). O pico de AVC com CABG ocorreu dentro dos 30 dias da randomização. Os eventos maiores cardiovasculares e vascular cerebral (desfecho secundário) em um ano foram maiores com PCI (16,8% em contraste com 11,8% p=0,004). Essa diferença surgiu basicamente da maior revascularização recorrente no grupo PCI (12,6% em contraste com 4,8% p<0,001).

A diferença absoluta a favor de CABG em contraste com PCI no desfecho primário foi similar nos 3 subgrupos de score de Syntax. O resultado após 5 anos comparando por separado os pacientes que receberam stents liberadores de paclitaxel ou stents liberadores de sirolimus em contraste com CABG foi idêntico.

Conclusão: 

O CABG é superior ao PCI com stents medicamentosos para tratar pacientes diabéticos com múltiplos vasos.

Comentário editorial: 

Subestudos dos pacientes diabéticos do SYNTAX, ou ARTS ou o CARDia mostravam essa diferença entre PCI e CABG, mas baseando-se fundamentalmente na revascularização recorrente (o menos grave de todos os componentes). No entanto, o FREEDOM mostrou diferenças significativas em morte ou infarto de miocárdio por separado apesar de que o estudo não tinha relevância estatística para demostrar isto. Devemos esperar o desenvolvimento de novas tecnologias que nos permitam encarar o tratamento percutâneo dos pacientes diabéticos com mais eficácia, mas, sobretudo, com mais segurança. Talvez a revascularização funcional com FFR e não a anatômica possa reduzir eventos a favor da angioplastia em pacientes diabéticos, mas não há nenhum estudo, nem mesmo em período de randomização, que possa responder a esta pergunta. O FREEDOM nos mostrou provavelmente o último calcanhar de Aquiles da angioplastia.

SOLACI.ORG

Mais artigos deste autor

Subestudo FLAVOUR trial: FFR ou IVUS na avaliação de pacientes diabéticos

Os pacientes com diabetes (DBT) costumam apresentar uma doença coronariana mais complexa em comparação com os não diabéticos, com maior prevalência de doença coronariana...

O TAVI apresenta maior mismatch protético em valvas bicúspides?

 A indicação de TAVI está se expandindo fortemente entre pacientes mais jovens e de baixo risco.  A presença de valva aórtica bicúspide (BAV) é observada...

ROLLER COASTR-EPIC22: comparação de técnicas de modificação de placa em lesões coronarianas severamente calcificadas

A presença de cálcio nas coronárias limita significativamente o sucesso das angioplastias coronarianas (PCI), sobretudo devido a uma expansão subótima do stent, o que...

Tratamento borda a borda na insuficiência mitral central e não central

A insuficiência mitral (IM) é uma patologia frequente, com uma prevalência aproximada de 3,5% em pessoas com menos de 65 anos, que aumenta a...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Subestudo FLAVOUR trial: FFR ou IVUS na avaliação de pacientes diabéticos

Os pacientes com diabetes (DBT) costumam apresentar uma doença coronariana mais complexa em comparação com os não diabéticos, com maior prevalência de doença coronariana...

O TAVI apresenta maior mismatch protético em valvas bicúspides?

 A indicação de TAVI está se expandindo fortemente entre pacientes mais jovens e de baixo risco.  A presença de valva aórtica bicúspide (BAV) é observada...

ROLLER COASTR-EPIC22: comparação de técnicas de modificação de placa em lesões coronarianas severamente calcificadas

A presença de cálcio nas coronárias limita significativamente o sucesso das angioplastias coronarianas (PCI), sobretudo devido a uma expansão subótima do stent, o que...