Para este trabalho realizado no Canadá, o aumento da demanda de pacientes que requeriam implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) pôde ser acompanhado por um incremento de igual magnitude de parte dos financiadores da saúde para custear o procedimento. Apesar disso, o tempo de espera entre o pedido de autorização formal e a realização do procedimento foi de 3 meses, espera que se associou a importante morbidade e mortalidade nesta população de alto risco.
A mudança de paradigma representada pelo TAVI deu oportunidade de tratamento a um grande número de pacientes que há bem poucos anos recebia apenas valvoplastia aórtica de maneira compassiva. Em teoria, este aumento da demanda poderia ultrapassar a capacidade de atenção e, portanto, traduzir-se em um maior tempo de espera até o efetivo acesso ao procedimento.
O objetivo deste trabalho foi avaliar as demoras atuais até a realização do procedimento e eventualmente associá-las a consequências clínicas durante a espera.
Leia também: Devemos fazer a melhor revascularização coronariana antes do TAVI.
Foi estudada uma população do Canadá encaminhada a TAVI entre 2010 e 2016. O desfecho primário foi o tempo médio transcorrido entre o momento do encaminhamento do paciente e realização efetiva do procedimento. Os desfechos clínicos foram a morte por qualquer causa e as re-hospitalizações por insuficiência cardíaca durante a espera.
Em total, 4.461 pacientes foram encaminhados a TAVI. Dentre eles, somente 50% finalmente recebeu o procedimento. Como dados adicionais, 39% dos pacientes que não receberam o procedimento foram descartados por diferentes razões e 11% continuavam esperando a autorização quando foi concluído o estudo.
Leia também: Idosos cursando uma SCA: Clopidogrel ou doses reduzidas de prasugrel?
Para a metade que finalmente foi submetida ao procedimento o tempo de espera médio foi de 80 dias, e isso se manteve estável durante os 6 anos de duração do estudo. Para estes pacientes a probabilidade de morrer durante a espera foi de 2% e a probabilidade de reinternação por insuficiência cardíaca foi de 12%. Obviamente, quanto maior a espera, maior a mortalidade e as reinternações.
Conclusão
O tempo de espera entre o momento em que o paciente foi encaminhado a TAVI e a realização efetiva do procedimento se manteve relativamente constante durante os 6 anos de duração do estudo, o que sugere que o aumento da demanda pôde ser satisfeito pelos financiadores da saúde.
Isso é verdadeiro para o Canadá, país no qual se realizou o estudo, mas parece pouco provável que na América Latina ocorra algo similar. Em nossos países, os tempos de espera têm, muitas vezes, mais relação com os contextos políticos e econômicos que com o contexto clínico dos pacientes. A espera está diretamente associada à mortalidade e às reinternações por insuficiência cardíaca.
Título original: Temporal Trends and Clinical Consequences of Wait-Times for Trans-Catheter Aortic Valve Replacement: A Population Based Study.
Referência: Elbaz-Greener G et al. Circulation. 2018 Mar 6. Epub ahead of print.
Receba resumos com os últimos artigos científicosSubscreva-se a nossa newsletter semanal
Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.