ESC 2018 | ART: desilusão da revascularização com dupla mamária em seguimento de 10 anos

Os resultados de 5 anos publicados foram neutros para a revascularização com dupla mamária vs. simples mamária, mas os cirurgiões naquele momento argumentaram que não era suficiente tempo e que a diferença só se veria em 10 anos de seguimento, quando o estudo fosse concluído. Hoje o mesmo foi apresentado no ESC 2018 de Munique e revelou-se uma grande desilusão, já que a técnica da dupla mamária não mostrou vantagens.

ART: desilusión de la revascularización con doble mamaria a 10 años de seguimientoApós uma década de seguimento não se constataram diferenças entre os pacientes que receberam cirurgia de revascularização miocárdica com dupla mamária vs. mamária esquerda mais ponde radial/venosas no desfecho combinado de morte, infarto e AVC.

 

Tampouco houve diferenças em sangramentos maiores ou revascularização repetida, embora os pacientes que receberam mamária tenham tido mais infecções.

 

O estudo teve dificuldades desde o começo. De fato, 36% dos pacientes receberam uma estratégia diferente da original designada pela randomização. 14% dos randomizados a dupla mamária finalmente receberam somente uma e por outro lado 22% dos randomizados a somente uma ponte mamária receberam uma segunda ponte arterial, na maioria das vezes uma ponte radial.


Leia também: ESC 2018 | CULPRIT-SHOCK: resultados após 1 ano de seguimento continuam respaldando o tratamento de somente a artéria culpada.


O uso de tratamento médico foi um dos pontos a destacar com entre 73% e 89% de cumprimento com a medicação conforme os guias da prática clínica (incluindo aspirina, estatinas, inibidores da enzima de conversão, bloqueadores do receptor de angiotensina e betabloqueadores).

 

O desfecho primário – uma combinação de morte, infarto e AVC – não foi diferente entre duas pontes mamárias e somente uma (HR 0,90; IC 95% 0,78-1,03). As curvas de sobrevida se mantiveram praticamente superpostas durante todo o estudo.


Leia também: ESC 2018 | MATRIX: Superioridade do acesso radial em um ano.


Há várias explicações para esta grande desilusão: uma pode ser, logicamente, o fato de não ter se revelado diferenças entre as duas estratégias, embora também possa haver outras. O enorme cumprimento do tratamento médico (inédito e muito superior a todos os trabalhos que compararam cirurgia com angioplastia, por exemplo) pôde ter diluído a diferença esperada em reintervenções. Também o uso de pontes radiais no grupo de uma só mamária pode ter influído nas reintervenções (as pontes radiais provaram ser superiores às venosas) e, por último, o crossover observado pode ter tido um papel preponderante nos resultados.

 

Título original: Randomized comparison of single versus bilateral internal thoracic artery grafts in 3102 CABG patients: major cardiovascular outcomes at ten years of follow up.

Apresentador: Taggart DP.


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