TRILUMINATE: insuficiência hepática e renal no tratamento borda a borda da valva tricúspide

A insuficiência tricúspide severa (IT) afeta aproximadamente 3% da população com mais de 65 anos e pode conduzir à insuficiência hepática e renal, o que provoca ascite e edemas periféricos. Tais complicações aumentam tanto as hospitalizações por insuficiência cardíaca quanto a mortalidade. 

O estudo TRILUMINATE Pivotal incluiu 572 pacientes com IT severa ou maior, que foram designados aleatoriamente a dois grupos: tratamento borda a borda combinado com tratamento médico ótimo (T TEER, 285 pacientes) ou tratamento médico ótimo unicamente (TM, o restante).

Foram avaliadas a função renal mediante o eGFR e a função hepática utilizando o MELD-XI (Model for End-Stage Liver Disease excluding INR). O desfecho primário foi a morte ou hospitalização em 12 meses. 

Características iniciais dos grupos

Ambos os grupos eram similares no início do estudo. A idade média foi de 78 anos; 59% da população esteve constituída por mulheres; mais da metade dos pacientes estavam em classe funcional III-IV. Outros achados relevantes foram: 

  • Fibrilação atrial: 88%
  • Hipertensão: 80%
  • Intervenção mitral ou aórtica prévia: 37%
  • Deterioração da função renal: 33%
  • Presença de marca-passo: 16%
  • Doença hepática: 7%
  • Infarto: 4%
  • AVC: 8%

Com relação à IT, 50% dos pacientes apresentavam IT torrencial, 21% maciça, 28% severa e o resto moderada. O eGFR médio foi de 53,9 ± 14,0 mL/min/1.73 m², e o escore MELD-XI médio foi de 10,2 ± 3,5.

Leia também: Subanálise do Estudo FAVOR III Europa: diferir a revascularização coronariana segundo o QFR comparado com o FFR.

Resultados: tratamento borda a borda (T TEER) em insuficiência tricúspide severa.

Após o tratamento T TEER foi observada uma redução significativa da IT em 92% dos pacientes, redução essa que se manteve durante um ano.

No tocante às análises específicas, o MELD-XI mostrou uma melhora significativa no grupo TEER (-0,11 ± 0,13 vs. 0,41 ± 0,13; p=0,0043), ao passo que não foram observadas diferenças significativas no eGFR (-0,10 ± 0,79 vs. -2,22 ± 0,82 mL/min/1,73 m²; p = 0,063).

Porém, em pacientes com um TEER bem-sucedido (IT moderada ou menor) foram detectadas melhoras em ambos os parâmetros. 

  • eGFR: +3,55 ± 1,04 mL/min/1,73 m² (vs. 0,07 ± 1,10 mL/min/1,73 m² no grupo controle; p=0.022).
  • MELD-XI: -0,52 ± 0,18 pontos (vs. um aumento de 0,34 ± 0,18 pontos no grupo controle; p=0.0007).

Na análise clínica não foram encontradas diferenças em termos de mortalidade nem de hospitalizações entre os grupos. Contudo, os pacientes com deterioração renal moderada a severa no início mostraram uma maior taxa de hospitalização por insuficiência cardíaca (0,34 eventos/ano; p < 0,001), independentemente do grupo de tratamento. 

Leia também: Acesso secundário no TAVI: será a via radial a melhor aposta?

Em dito subgrupo, o desfecho primário foi menor no grupo T TEER (28,9% vs. 36,2%; p = 0,40), embora tal diferença não tenha alcançado a significância estatística. 

Conclusão: Efeitos da insuficiência tricúspide severa e resultados do estudo TRILUMINATE Pivotal sobre a função renal e hepática 

A deterioração severa da função renal e hepática se associa com maiores taxas de hospitalização e mortalidade em pacientes com insuficiência tricúspide severa. Em 12 meses não foram observadas diferenças estatisticamente significativas no eGFR e no MELD-XI entre os grupos. No entanto, em pacientes com um TEER bem-sucedido, evidenciaram-se pequenas melhoras favoráveis em ambos os parâmetros. São necessários estudos para avaliar o impacto dessas mudanças na evolução da insuficiência renal e hepática terminal, bem como na redução de hospitalizações e mortalidade. 

Título Original: Clinical Outcomes of Transcatheter Edge-to-Edge Tricuspid Valve Repair and Organ Function in Severe Tricuspid Regurgitation: TRILUMINATE Trial.

Referência: Ulrich P. Jorde et al. Journal of the American College of Cardiology, Volumen 84, 2446–2456, 2024.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

 

Dr. Carlos Fava
Dr. Carlos Fava
Membro do Conselho Editorial da solaci.org

Mais artigos deste autor

Acesso secundário no TAVI: será a via radial a melhor aposta?

Em alguns países o implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) se tornou o tratamento de escolha para pacientes com estenose aórtica severa sintomática. O...

Estenose aórtica assintomática: uma decisão complexa

A estenose aórtica severa assintomática continua representando um desafio importante na tomada de decisões clínicas, sobretudo devido à dificuldade frequente para identificar sintomas. Quando...

TAVI e insuficiência aórtica: as válvulas são todas iguais?

A insuficiência aórtica (IAO) representa entre 0,5% e 2,2% das afecções valvares em pessoas de mais de mais de 65 anos.  De acordo com os...

Resultados do acompanhamento de 1 ano do registro TAVI com a utilização de válvulas balão-expansíveis de 5ª geração nos EUA

A utilização da estratégia de substituição de válvula aórtica transcateter (TAVR) se estendeu a pacientes com estenose aórtica (EAo) severa de baixo risco e...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Jornadas Cuba 2025 | Concurso de Jovens Cardiologistas Intervencionistas

Chamado À Apresentação de Casos L Jornadas Regionais da SOLACI - 18° Região Centro-America e o Caribe. Temos o prazer de convidar os jovens cardiologistas...

Subanálise do Estudo FAVOR III Europa: diferir a revascularização coronariana segundo o QFR comparado com o FFR

Nas lesões coronarianas intermediárias é recomendável a avaliação funcional para embasar a tomada de decisões sobre a revascularização. Atualmente são utilizados diversos índices, como...

Acesso secundário no TAVI: será a via radial a melhor aposta?

Em alguns países o implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) se tornou o tratamento de escolha para pacientes com estenose aórtica severa sintomática. O...