Betabloqueadores em pacientes revascularizados: prescrever ou não?

Betabloqueadores em pacientes revascularizados

Este trabalho examina os preditores e resultados da prescrição de betabloqueadores no momento da alta de uma angioplastia coronária bem-sucedida em pacientes com angina crônica estável que NÃO tenham antecedentes de infarto agudo do miocárdio ou insuficiência cardíaca.

 

O benefício dos betabloqueadores em pacientes com infarto agudo do miocárdio ou deterioro da função sistólica está muito bem documentado. Entretanto, o benefício em pacientes com angina crônica estável, sobretudo se foram submetidos a angioplastia, não está claro.

 

O trabalho incluiu pacientes com angina crônica estável sem histórico prévio de infarto, deterioro da função ventricular (fração de ejeção < 40%) ou falha sistólica, que tenham sido submetidos a angioplastia eletiva entre janeiro de 2005 e março de 2013.

 

Estes pacientes foram analisados retrospectivamente em relação à prescrição de betabloqueadores no momento da alta.

 

Analisou-se a mortalidade por qualquer causa (desfecho primário):

  • Revascularização.
  • Hospitalização por infarto agudo do miocárdio.
  • Insuficiência cardíaca ou AVC em 30 dias
  • Insuficiência cardíaca ou AVC em 3 anos em pacientes ≥ 65 anos.

 

Um total de 755.215 pacientes foram incluídos, dos quais 71,4% receberam alta com betabloqueadores.

 

Em 3 anos não se observou diferença com a prescrição de betabloqueadores em:

  • Mortalidade ajustada (14,0% vs. 13,3%; HR: 1,00; IC 95%: 0,96 a 1,03; p = 0,84).
  • Infarto (4,2% vs. 3,9%; HR: 1,00; IC 95%: 0,93 a 1,07; p = 0,92).
  • AVC (2,3% vs. 2,0%; HR: 1,08; IC 95%: 0,98 a 1,18; p = 0,14)
  • Revascularização (18,2% vs. 17,8%; HR: 0,97; IC 95%: 0,94 a 1,01; p = 0,10)

 

Observou-se, sim, uma maior taxa de re-hospitalização por insuficiência cardíaca nos pacientes que receberam alta com tratamento com betabloqueadores (8,0% vs. 6,1%; HR: 1,18; IC 95%: 1,12 a 1,25; p < 0,001).

 

Durante o período 2005-2013 observou-se um incremento gradual da prescrição de betabloqueadores nesta coorte.

 

Conclusão

A prescrição de betabloqueadores no momento da alta de uma angioplastia eletiva em pacientes ≥ 65 anos com angina crônica estável mas sem antecedentes de infarto, insuficiência cardíaca ou fração de ejeção < 40% não se associou à redução de nenhum evento em 30 dias ou 3 anos. Ainda assim, a prescrição de betabloqueadores se incrementou com o tempo nesta população.

 

Título original: Predictors, Trends, and Outcomes (Among Older Patients ≥65 Years of Age) Associated With Beta-Blocker Use in Patients With Stable Angina Undergoing Elective Percutaneous Coronary InterventionInsights From the NCDR Registry.

Referência: Apurva A et al. J Am Coll Cardiol Intv. 2016;9(16):1639-1648.

 

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