A maioria dos cirurgiões cardiovasculares do mundo – tanto na prática diária quanto nos estudos randomizados, como por exemplo o Syntax ou o Freedom – revascularizam as lesões > 50% de seus pacientes com angiografia convencional. Muitas de ditas lesões provavelmente não sejam funcionalmente significativas.
Existe esmagadora evidência a favor da avaliação funcional das lesões para guiar a angiografia coronariana, mas para guiar a cirurgia de revascularização miocárdica a situação não é mesma. A evidência é escassa para guiar a cirurgia, mas mesmo que fosse abundante, convencer os cirurgiões a tal mudança de paradigma aparentemente levaria tempo.
O pouco que já foi publicado até agora sobre a orientação funcional para revascularizar com cirurgia nos fala de um menor número de pontes, menor tempo de circulação extracorpórea e uma maior perviedade das pontes em comparação com orientação angiográfica.
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Este recente trabalho publicado no Circ. Cardiovasc. Interv. incluiu retrospectivamente 627 pacientes consecutivos que receberam cirurgia de revascularização miocárdica entre 2006 e 2010. Em 198 pacientes ao menos uma estenose foi revascularizada de acordo com o FFR, ao passo que os restantes 429 só foram revascularizados de acordo com a angiografia. O grupo guiado por FFR foi significativamente mais jovem e com menos porcentagem de diabéticos que o grupo guiado por angiografia, motivo pelo qual se utilizou o propensity score para equipará-los.
A taxa de mortalidade global ou de infarto agudo do miocárdio foi significativamente mais baixa no grupo guiado por FFR (n = 31, isto é, 16% vs. n = 49, isto é, 25%; HR 0,59; p = 0,02) em comparação com o grupo guiado por angiografia em 6 anos de seguimento.
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Há alguns dias comentamos o trabalho publicado no J Am Coll Cardiol Intv em que somente a metade dos Cardiologistas Intervencionistas utilizavam sistematicamente a avaliação funcional na prática diária. A outra metade dos profissionais – apesar de toda a evidência publicada e de terem as ferramentas a disposição – simplesmente consideram que a angiografia convencional é suficiente. Os cirurgiões parecem, a priori, ainda mais difíceis de convencer.
Conclusão
A cirurgia de revascularização miocárdica guiada por FFR se associa a uma significativa redução da taxa de morte ou infarto agudo do miocárdio em 6 anos de seguimento em comparação com somente a angiografia como guia.
Título original: Six-Year Follow-Up of Fractional Flow Reserve-Guided Versus Angiography-Guided Coronary Artery Bypass Graft Surgery.
Referência: Stephane Fournier et al. Circ Cardiovasc Interv. 2018 Jun;11(6):e006368.
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