A informação sobre o uso de terapias antitrombóticas e seus resultados em pacientes com fibrilação atrial é limitada na América Latina. Isso é válido para quase todos os aspectos da medicina: os grandes estudos randomizados e multicêntricos poucas vezes incluem países da América Latina e, quando o fazem, a população incluída não é representativa da população geral.
A honrosa exceção são as doenças endêmicas. Por exemplo, na ocasião do boom do vírus da zika, o NEJM se encheu de artigos randomizados no Brasil. Para o resto da medicina, entretanto, na maioria das vezes temos que nos conformar com a extrapolação dos dados.
O estudo global ENGAGE AF-TIMI 48 (Effective Anticoagulation With Factor Xa Next Generation Atrial Fibrillation–Thrombolysis In Myocardial Infarction 48) comparou a eficácia e a segurança do edoxaban vs. varfarina em pacientes com fibrilação atrial a uma média de seguimento de 2,8 anos. Os autores compararam os resultados de ambas as drogas de 2.661 pacientes da América Latina vs. 18.444 pacientes de outras regiões.
Ao comparar os pacientes da América Latina vs. outras regiões o risco global de AVC, embolia sistêmica e sangramento maior foi similar. No entanto, os pacientes latino-americanos mostraram uma maior mortalidade bem como como um maior risco de sangramento intracraniano.
Ao ser comparado com a varfarina, o edoxaban reduziu o risco de AVC/embolia sistêmica em todas as regiões (HR: 0,64 e 0,91 na América Latina e no resto das regiões, respectivamente) e também reduziu o risco de sangramento maior (HR: 0,71 e 0,82, respectivamente) e de morte cardiovascular (HR: 0,78 e 0,88, respectivamente). Não houve evidências de heterogeneidade entre as regiões.
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Por outro lado, observou-se uma maior redução do AVC hemorrágico com edoxaban na América Latina (HR: 0,16) vs. o resto das regiões (HR: 0,64; p para a interação = 0,037).
Conclusão
Os pacientes da América Latina com fibrilação atrial têm um risco maior de sangramento intracraniano e morte em comparação com pacientes de outras regiões. Contudo, apesar de a taxa de eventos ter sido maior na América Latina, os resultados do edoxaban vs. a varfarina foram pelo menos igualmente favoráveis aos do resto do mundo incluindo uma maior redução dos AVC hemorrágicos em nossos pacientes. O edoxaban representa uma interessante alternativa à varfarina em pacientes com fibrilação atrial para prevenir morbidade e mortalidade relacionada ao tromboembolismo arterial e ao sangramento relacionado ao anticoagulante.
Título original: Edoxaban Versus Warfarin in Latin American Patients With Atrial Fibrillation. The ENGAGE AF-TIMI 48 Trial.
Referência: Ramón Corbalán et al. J Am Coll Cardiol 2018;72:1466–75.
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