Sair da sala de cirurgia após a revascularização miocárdica e requerer angioplastia: quão ruim pode ser isso?

A angioplastia intra-hospitalar após uma cirurgia de revascularização miocárdica é realmente pouco frequente, mas incrementa de maneira muito significativa a morbidade, a mortalidade e os custos hospitalares.

Ainda não temos clareza sobre que preditores poderiam ser modificados para evitar estas coronariografias e angioplastias muito precoces em pacientes que, em geral, já saem da sala de cirurgia com alterações no eletrocardiograma. Qualidade das pontes, qualidade dos leitos distais, defeitos técnicos ou, talvez, simplesmente espasmo devido à manipulação.

 

Felizmente são esporádicos os pacientes que se apresentam ante nós, na sala de recuperação, recém-saídos da sala de cirurgia, com supradesnivelamento em algumas derivações. Quando isso ocorre, não nos resta mais alternativa que levá-los à sala de hemodinâmica.


Leia também: O número mágico de casos a partir do qual a experiência entre no platô com relação ao TAVI.


Quando o supradesnivelamento é observado em derivação inferior (DII, DIII, aVF), o mais comum é que as pontes estejam pérvias e o mais provável é que a origem do problema seja uma má purgação do sistema com a conseguinte embolia da área.

 

A situação é outra quando o supradesnivelamento observado é anterior. Nestes casos, em geral, vemos problemas como mamárias ocluídas, artéria descendente anterior com muito espasmo e leito ruim, entre outras complicações. A nitroglicerina deveria ser o primeiro passo, já que realizar uma angioplastia sobre uma anastomose tão recente tem um elevado risco de ruptura.

 

Este trabalho incluiu 554.987 pacientes, dentre os quais 24.503 (4,4%) tinham suspeita de isquemia aguda e receberam angiografia pós-operatória. Além disso, aproximadamente 14.323 requereram angioplastia.


Leia também: Dados do EXCEL: angioplastia vs. cirurgia em pacientes com AVC prévio.


A mortalidade destes pacientes que requereram angioplastia foi duas vezes maior do que a daqueles que não apresentaram sinais pós-operatórios de isquemia (5,1% vs. 2,7%; p < 0,001). O problema não só se refletiu na mortalidade mas também em mais AVC (2,1% vs. 1,6%; p < 0,001) mais insuficiência renal aguda (16% vs. 12,3%; p < 0,001) e complicações infecciosas.

 

Também foi mais prolongada a estadia hospitalar, com um aumento aproximado de 50% nos custos.

 

As cirurgias não eletivas e aqueles sem bomba de circulação extracorpórea (off-pump) foram preditores de necessidade de angioplastia após a cirurgia.

 

Conclusão

A angioplastia imediata pós-cirurgia de revascularização miocárdica é pouco comum, mas incrementou significativamente a morbidade, a mortalidade e os custos. Estudar fatores passíveis de serem modificados para prevenir estes eventos deve ser o objetivo de próximos estudos.

 

Título original: Incidence, Predictors, and Outcomes of In-Hospital Percutaneous Coronary Intervention Following Coronary Artery Bypass Grafting.

Referência: Fahad Alqahtani et al. J Am Coll Cardiol 2019;73:415–23.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Tabagismo e seu impacto na doença cardiovascular 10 anos depois de uma angioplastia coronariana

O tabagismo é um fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares ateroscleróticas. Alguns relatórios históricos sugeriram, no entanto, um menor...

Jejum vs. não jejum antes de procedimentos cardiovasculares percutâneos

Embora em 2017 as diretrizes da Sociedade Americana de Anestesiologistas tenham sido atualizadas para permitir a ingestão de líquidos claros até duas horas e...

Dissecção espontânea do tronco da coronária esquerda: características clínicas, manejo e resultados

Gentileza do Dr. Juan Manuel Pérez. A dissecção espontânea do tronco da coronária esquerda (TCE) é uma causa infrequente de infarto agudo do miocárdio (IAM),...

Pré-tratamento com DAPT em síndromes coronarianas agudas: continua sendo um debate não resolvido?

Na síndrome coronariana aguda (SCA), a terapia antiplaquetária dual (DAPT) representa um pilar fundamental após a intervenção mediante angioplastia coronariana percutânea (PCI), ao prevenir...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Terapêutica endovascular do TEP: será melhor um tratamento mais precoce do que tardio, como no caso do infarto e do AVC?

Os pacientes com tromboembolismo de pulmão (TEP), seja de risco intermediário, seja alto, podem evoluir a uma disfunção do ventrículo direito (VD), o que...

Será o acesso carotídeo uma opção segura no TAVI?

O implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) está recomendado preferentemente por acesso femoral, segundo as diretrizes europeias (em pacientes ≥75 anos) e americanas (em...

Veja as melhores imagens das Jornadas Uruguai 2025

Aproveite os melhores momentos das Jornadas Uruguai 2025, realizadas no Hotel Radisson de Montevidéu (Uruguai) nos dias 7, 8 e 9 de maio de...