Em setembro de 2008 os intervencionistas do Heart and Vascular Centre Hamburg tiveram a primeira experiência com o dispositivo MitraClip depois de o mesmo ter obtido o CE-mark na Europa. Em julho de 2019, o mesmo centro alcançou o incrível número de 1.000 MitraClips, tornando-se assim o centro com a maior experiência acumulada em todo o mundo.
Estes 1.000 pacientes tratados tiveram uma média de EuroScore logístico de 26,8%, uma alta proporção de doença cardíaca relevante (67,1% de fibrilação atrial, 39,9% de cardiopatia isquêmica e 20,1% de miocardiopatia dilatada) bem como uma alta proporção de outras doenças (51,5% doença renal crônica, 13,3% de AVC prévio, 25,6% de hipertensão pulmonar e 20% de doença pulmonar obstrutiva crônica).
O tempo médio de procedimento foi de 160 minutos, os pacientes receberam 1,4 clips e a taxa de sucesso foi de 90,5% após a alta, que foi dada 11 dias depois do procedimento.
A sobrevida nesta coorte de pacientes idosos e de alto risco foi de 46,2% em uma média de seguimento de 4,4 anos.
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A taxa de reintervenções foi relativamente baixa (8,7%) e os pacientes em sua maioria foram tratados com um segundo procedimento de MitraClip.
Todos estes achados são similares aos do registro German Transcatheter Mitral Valve Interventions. A taxa de pacientes tratados por insuficiência mitral secundária não se modificou significativamente no transcorrer dos anos.
Em total, 6 cardiologistas intervencionistas realizaram os procedimentos, ganhado todos eles uma experiência excepcional.
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A indicação do procedimento sempre se baseou em uma equipe multidisciplinar, composta de cirurgiões cardiovasculares, cardiologistas clínicos, anestesistas e, logicamente, cardiologistas intervencionistas.
Conclusões
O sistema MitraClip foi a primeira técnica de reparação borda a borda aprovada e o número de implantes no mundo supera os 80.000 casos e continua aumentando.
A segurança e factibilidade do procedimento para tratar ambas as etiologias da insuficiência mitral levou as diretrizes da ESC/EACTS (European Society of Cardiology / European Association of Cardiothoracic Surgery) a darem uma recomendação IIb, nível de evidência C ao procedimento.
Eventualmente, os resultados do Mitra-FR e do COAPT poderiam elevar o nível de recomendação.
Embora o MitraClip possa ser um tratamento de grande ajuda em pacientes selecionados, o tratamento médico ótimo e a ressincronização (quando estiver indicada) são obrigatórios em pacientes com insuficiência mitral secundária.
Por muito tempo discutimos se a insuficiência mitral secundária era a origem ou a causa da insuficiência cardíaca. Em tal sentido, o estudo COAPT pode ser considerado uma prova do conceito de que a redução da insuficiência mitral acarreta a melhora do prognóstico.
Título original: 1000 MitraClip procedures. Lessons learnt from the largest single-centre experience worldwide.
Referência: Kalbacher D et al. Eur Heart J. 2019 Oct 7;40(38):3137-3139.
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