É seguro utilizar iFR para diferir a revascularização de lesões do tronco da coronária esquerda?

Diferir a revascularização de lesões do tronco da coronária esquerda utilizando o índice no período livre de ondas (iFR) parece seguro já que pacientes cujas lesões foram diferidas tiveram um prognóstico similar, a longo prazo, ao grupo que foi revascularizado com base no mesmo método. 

¿Es seguro utilizar iFR para diferir lesiones del tronco de la coronaria izquierda?

As lesões do tronco da coronária esquerda foram universalmente excluídas dos trabalhos nos quais o tratamento médico estava dentro das possibilidades terapêuticas. 

O trabalho de Yusuf publicado em 1994 no The Lancet e o registro CASS publicado no Circulation um ano depois fizeram com que praticamente não fossem realizados novos estudos que randomizassem uma lesão do tronco da coronária esquerda > 50% a tratamento médico. Em ambos os trabalhos citados observou-se mais do dobro de mortalidade nos pacientes randomizados a tratamento médico vs. aqueles que foram submetidos a cirurgia. 

A estimação visual de 50% necessitava mais precisões: subestimá-la duplica a mortalidade em 5 anos e superestimá-la implica enviar desnecessariamente um paciente a sala de operações. 

É aí que surge o ultrassom intravascular coronariano (IVUS) como árbitro e o estudo LITRO (J Am Coll Cardiol 2011;58:351-8) dividiu claramente as águas com uma área luminal mínima de 6 mm2.


Leia também: Momento ideal para intervir em infartos sem ST e sem carga de antiagregantes.


Isso definiu o panorama durante muitos anos. No entanto, surgiam novas perguntas. Os 6 mm2 são um número absoluto, motivo pelo qual um tronco pequeno com uma lesão apenas leve podia cumprir o critério de revascularização e, por outro lado, um tronco de grande calibre e com uma lesão claramente severa podia ainda conservar os 6 mm2 de área luminal mínima. 

O presente trabalho nos propõe um novo árbitro: o iFR. 

Este estudo multicêntrico e observacional incluiu 314 pacientes com uma lesão do tronco da coronária esquerda. Dentre eles, 163 (51,9%) foram diferidos e 151 (n = 48,1%) foram revascularizados com base em um corte de iFR de 0,89.


Leia também: Infartos com choque cardiogênico: múltiplos vasos vs. somente vaso culpado: há novidades?


O desfecho primário foi uma combinação de morte, infarto não fatal e revascularização justificada pela isquemia. Os desfechos secundários foram os componentes individuais do desfecho primário e a morte cardíaca. 

Em 30 meses de seguimento o desfecho primário ocorreu em 9,2% dos pacientes diferidos e em 14,6% dos pacientes revascularizados (p = 0,26). As diferenças nos componentes individuais tampouco foram significativas: 3,7% vs. 4,6% para morte por qualquer causa; 1,2% vs. 2% para morte cardíaca; 2,5% vs. 5,3% para infarto não fatal e 4,3% vs. 5,3% para as revascularizações da lesão alvo.  

Conclusão

Diferir a revascularização de lesões do tronco da coronária esquerda com base no iFR parece seguro, observando-se um prognóstico similar a longo prazo entre os pacientes diferidos e os revascularizados. 

 

Título original: Safety of Revascularization Deferral of Left Main Stenosis Based on Instantaneous Wave-Free Ratio Evaluation.

Referência: Takayuki Warisawa et al. J Am Coll Cardiol Intv 2020, article in press. https://doi.org/10.1016/j.jcin.2020.02.035


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Tabagismo e seu impacto na doença cardiovascular 10 anos depois de uma angioplastia coronariana

O tabagismo é um fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares ateroscleróticas. Alguns relatórios históricos sugeriram, no entanto, um menor...

Jejum vs. não jejum antes de procedimentos cardiovasculares percutâneos

Embora em 2017 as diretrizes da Sociedade Americana de Anestesiologistas tenham sido atualizadas para permitir a ingestão de líquidos claros até duas horas e...

Dissecção espontânea do tronco da coronária esquerda: características clínicas, manejo e resultados

Gentileza do Dr. Juan Manuel Pérez. A dissecção espontânea do tronco da coronária esquerda (TCE) é uma causa infrequente de infarto agudo do miocárdio (IAM),...

Pré-tratamento com DAPT em síndromes coronarianas agudas: continua sendo um debate não resolvido?

Na síndrome coronariana aguda (SCA), a terapia antiplaquetária dual (DAPT) representa um pilar fundamental após a intervenção mediante angioplastia coronariana percutânea (PCI), ao prevenir...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Tratamento percutâneo da insuficiência mitral funcional atrial

A insuficiência mitral (IM) por dilatação atrial funcional (AFMR) é uma afecção que representa aproximadamente um terço dos casos de insuficiência mitral, associando-se com...

Tabagismo e seu impacto na doença cardiovascular 10 anos depois de uma angioplastia coronariana

O tabagismo é um fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares ateroscleróticas. Alguns relatórios históricos sugeriram, no entanto, um menor...

Subexpansão da ACURATE Neo2: prevalência e implicações clínicas

O implante percutâneo da valva aórtica (TAVI), para além de ter demonstrado benefícios clínicos sustentáveis em diversas populações de pacientes, ainda enfrenta alguns desafios...