Aprisionar a corda no ramo lateral para prevenir oclusão após o implante do stent no vaso principal: devemos proceder assim rotineiramente?

Embora a estratégia de stent provisional no tratamento de bifurcações coronarianas seja o tratamento ideal, dita estratégia também pode se associar a oclusão do ramo lateral, o que leva a eventos adversos severos. Vários tratamento tem sido propostos para prevenir esta complicação. Um deles é o aprisionamento da corda no ramo lateral antes do implante do stent no vaso principal. O real benefício dessa estratégia ainda não foi avaliado. 

Enjaular la cuerda en la rama lateral para prevenir oclusión luego del stent en el vaso principal, ¿debemos hacerlo rutinariamente?

O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto angiográfico e clínico gerado pelo aprisionamento da corda prévio ao implante do stent no vaso principal (stent de segunda geração). 

O desfecho primário (DP) foi a oclusão do ramo lateral após o implante do stent definido como um TIMI < 3. O desfecho secundário (DS) incluiu: 1) falha na lesão tratada, definida como morte cardiovascular, IAM e revascularização da lesão; 2) falha somente na lesão tratada, e 3) sucesso angiográfico e do procedimento. 

Fez-se uma análise do COBIS III (Coronary Bifurcation Stenting), um registro retrospectivo, multicêntrico e observacional. Foram incluídos 1890 pacientes que cumpriam os critérios de inclusão. Posteriormente, os pacientes incluídos foram divididos em dois grupos: grupo de corda aprisionada (n = 819, 43%) e grupo de corda não aprisionada (n = 1071, 56%).

Não houve diferença nas populações. A idade média foi de 63 anos, cerca de 70% da população esteve composta de homens. A metade dos pacientes eram hipertensos e 30% apresentavam diabete mellitus. O grupo da corda aprisionada apresentou maior taxa de bifurcações verdadeiras e lesão de tronco da coronária esquerda. 

Leia também: Stent provisional ou duplo stent no tronco da coronária esquerda? Uma discussão sem fim?

A forma de apresentação mais frequente foi a síndrome coronariana aguda

Não houve diferenças significativas no DP (corda aprisionada 1,8% vs. corda não aprisionada 2,9%; HR: 0,62; 95% CI: 0,33-1,16; p = 0,133) nem nos DS. Além disso, tampouco houve diferenças em termos de sucesso angiográfico e do procedimento nem no seguimento dos pacientes (média de 52 meses).

Por outro lado, foram observadas diferenças significativas em termos da oclusão do ramo lateral, nos que apresentavam uma estenose > 60% em ramo lateral ou no vaso principal (HR: 0,30; 95% CI: 0,12-0,69; p = 0,007) a favor do grupo em que tinha sido usado um guia no ramo lateral secundário. 

Conclusão

Na estratégia de 1 stent para o tratamento de bifurcações com stent de segunda geração, aprisionar a corda no ramo lateral antes do implante do stent no vaso principal se associou a uma diminuição da taxa de oclusão do ramo lateral em pacientes com lesões severas no vaso principal ou no ramo lateral, mas não houve diferenças em todos os tipos de bifurcações, nem no seguimento clínico a longo prazo. É necessário realizar estudos randomizados para esclarecer a função desta técnica.

Dr. Andrés Rodríguez
Membro do Conselho Editorial de SOLACI.org.

Título Original: Effect of Wire Jailing at Side Branch in 1-Stent Strategy for Coronary Bifurcation Lesions

Referência: Yeon-Jik Choi et al. J Am Coll Cardiol Intv. 2022 Feb, 15 (4) 443–455.


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