Embora os benefícios do tratamento antiplaquetário dual (DAPT) com aspirina e um inibidor de P2Y12 sejam reconhecidos, sua principal complicação é a ocorrência de eventos hemorrágicos, que impactam negativamente na morbimortalidade dos pacientes.
Para piorar o panorama, aproximadamente 10% dos pacientes submetidos a angioplastia coronariana com stent (ATC) estão sob tratamento anticoagulante oral, o que aumenta significativamente o risco de sangramento quando este é combinado com DAPT. A duração ótima do tratamento com DAPT juntamente com a anticoagulação oral continua sendo incerta.
Com o objetivo de abordar dita incerteza, foi levado a cabo um estudo multicêntrico e prospectivo para avaliar os efeitos de 1 mês vs. 3 meses de DAPT em pacientes com ou sem anticoagulação oral (OAC) concomitante.
O desfecho primário (DP) foi a combinação de morte por todas as causas ou infarto agudo do miocárdio (IAM), ao passo que o desfecho secundário (DS) se centrou na taxa de sangramento conforme a classificação BARC 2 a 5.
O estudo incluiu um total de 3364 pacientes, dentre os quais 43% estavam sob anticoagulação e 56% não estavam sob dito tratamento. No grupo com anticoagulação oral, 644 pacientes receberam 1 mês de DAPT e 818 pacientes receberam 3 meses de DAPT. Por outro lado, no grupo sem anticoagulação oral, 748 pacientes receberam 1 mês de DAPT e 1154 pacientes receberam 3 meses de DAPT.
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Os pacientes do grupo OAC eram mais jovens, havia uma maior prevalência de homens e antecedentes de revascularização miocárdica. Por outro lado, apresentavam menos insuficiência renal, anemia ou histórico de sangramento maior. Os pacientes que receberam 1 mês de DAPT, tanto do grupo OAC como do grupo não OAC, eram mais idosos, com maior prevalência de insuficiência renal. A apresentação clínica mais frequente foi o IAM sem elevação do ST e o clopidogrel era o antiagregante mais usado no momento da alta.
Os resultados mostraram que em termos do DP, o risco combinado de morte ou IAM foi similar entre 1 mês e 3 meses de DAPT tanto para os pacientes com anticoagulação oral (7,4% vs. 8,8%; HR: 0,74; CI de 95%: 0,49-1,11; p = 0,139) quanto para os pacientes sem anticoagulação oral (8,4% vs. 7,3%; HR 1,17; CI de 95%: 0,82-1,65; p = 0,390).
Entretanto, ao analisar os componentes individuais do DP, observou-se que os pacientes com anticoagulação oral que recebiam 1 mês de DAPT apresentaram um menor risco de morte por todas as causas em comparação com aqueles que receberam 3 meses de DAPT (HR: 0,58; CI de 95%: 0,34-0,98; p = 0,043). Já no grupo sem anticoagulação oral dita diferença não foi observada (HR: 1,33; CI de 95%: 0,85-2,08; p = 0,206). No tocante ao risco de IAM, não foram observadas diferenças significativas entre 1 mês e 3 meses de DAPT nos dois grupos (Grupo OAC = 3,4% vs. 3,5%; HR: 0,93; CI de 95%: 0,51-1,71; p = 0,814; Grupo não OAC = 3,0% vs. 4,3%; HR: 0,72; CI de 95%: 0,42-1,23; p = 0,226).
Em relação ao DS, os pacientes com anticoagulação oral mostraram uma maior taxa de sangramento tipo BARC 2 a 5. A análise segundo a duração da DAPT revelou um menor risco de sangramento no grupo de 1 mês em comparação com o grupo de 3 meses de DAPT em pacientes com anticoagulação oral (HR: 0,71; CI de 95%: 0,51-0,99; P = 0,046) e uma tendência não significativa a menor sangramento no grupo sem anticoagulação oral (HR: 0,74; CI de 95%: 0,50-1,09; p = 0,124).
Conclusão
Em síntese, o tratamento com 1 mês de DAPT em comparação com 3 meses demonstrou taxas similares de morte por todas as causas ou IAM, mas se associou com uma redução significativa na taxa de sangramento tipo BARC 2 a 5, independentemente do tratamento anticoagulante.
Dr. Andrés Rodríguez.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: 1- or 3-Month DAPT in Patients With HBR With or Without Oral Anticoagulant Therapy After PCI.
Referência: Marco Valgimigli, MD, PHD et al J Am Coll Cardiol Intv 2023.
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