As oclusões coronarianas totais crônicas (CTO) se apresentam em até 20% dos pacientes que se submetem a estudos angiográficos diagnósticos. Nas últimas duas décadas, a otimização das técnicas de recanalização, o desenvolvimento de novos dispositivos especializados e a melhora nas habilidades dos operadores tem contribuído para aumentar a taxa de sucesso do procedimento, que já atinge 90%. Entretanto, persistem complicações específicas, como a perfuração de colaterais e complicações no sítio de acesso. Por tal razão, é essencial realizar uma avaliação minuciosa dos riscos e benefícios para cada paciente.
O objetivo deste estudo retrospectivo foi informar sobre a taxa de sucesso e as complicações no European Registry of Chronic Total Occlusion (ERCTO).
O sucesso do procedimento foi definido como uma conquista técnica sem eventos adversos cardíacos e cerebrovasculares maiores (MACCE) intra-hospitalares. Os MACCE foram definidos como um conjunto de eventos, incluindo morte, infarto do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral, revascularização repetida de urgência (Re ATC ou cirurgia) e pericardiocentese de urgência.
Foram analisadas 8673 CTO incluídas no registro desde janeiro de 2021 até outubro de 2022. A idade média foi de 65 anos e a maioria da população estava composta por homens (82%). Aproximadamente 20% dos pacientes apresentavam angina estável (CF > 2) e 52% apresentavam dispneia, com NYHA > 1. Em relação à função ventricular, apenas 7,6% dos pacientes tinham uma fração de ejeção severamente reduzida (Fej < 35%), ao passo que 52% mostravam anormalidades segmentares na motilidade no território da CTO. A artéria coronariana mais tratada foi a coronária direita (55%), seguida da descendente anterior (26%) e da circunflexa (14%). O escore J-CTO médio foi de 2,2.
Quanto à utilização de dispositivos dedicados, a taxa de uso de IVUS foi de 21%, a extensão do cateter guia foi de 18%, o microcateter de duplo lúmen foi de 11% e o uso de aterectomia rotacional se aplicou em 3% dos pacientes.
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Levando em consideração a totalidade dos procedimentos, 73% deles foram realizados por via anterógrada, ao passo que os 27% restantes foram levados a cabo por via retrógrada. A taxa de sucesso técnico foi de 89%, sendo significativamente maior na estratégia anterógrada do que na retrógrada (92,8% vs. 79,3%; p < 0,001). Ao comparar os procedimentos, a via retrógrada apresentou uma maior complexidade das lesões, com um escore J-CTO de 3,0 ± 1,0 vs. 1,9 ± 1,2 (p < 0,001), uma maior taxa de MACCE intraprocedimento e intra-hospitalar (3,1% vs. 1,2%; p < 0,018) e uma maior taxa de perfuração com e sem tamponamento cardíaco (1,5% vs. 0,4% e 8,3% vs. 2,1%, respectivamente; p < 0,001).
Na análise segundo a experiência dos operadores, aqueles com um alto volume em CTO apresentaram uma maior taxa de sucesso tanto por via anterógrada como por via retrógrada (93,4% vs. 91,2% e 81,5% vs. 69,0%, respectivamente; p < 0,001) e uma menor taxa de MACCE (1,47% vs. 2,41%; p < 0,001), apesar de uma maior complexidade das lesões tratadas (score J-CTO: 2,42 ± 1,28 vs. 2,15 ± 1,27; p < 0,001).
Conclusão
O registro ERCTO alcançou uma alta taxa de sucesso do procedimento e uma baixa taxa de complicações, mesmo em pacientes com lesões complexas. Constatou-se que diversos fatores relacionados com o paciente e com o procedimento aumentam os riscos de complicações. Por outro lado, a experiência do operador é um fator crucial para alcançar o sucesso do procedimento.
Dr. Andrés Rodríguez.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Contemporary outcomes of chronic total occlusion percutaneous coronary intervention in Europe: the ERCTO registry.
Referência: Giuseppe Vadalà MD et al EuroIntervention 2024;20:e185-e197.
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