O conceito de revascularização completa (RC) foi amplamente estudado, gerando diversas abordagens e debates sobre o momento ótimo para realizá-la.
O estudo BIOVASC explorou o tempo ideal para realizar a RC em pacientes com síndromes coronarianas agudas (SCA) e doença de múltiplos vasos (MV). Este trabalho multicêntrico, realizado em quatro países europeus, demonstrou que a RC imediata não é inferior à estratégia escalonada no que se refere ao desfecho combinado de mortalidade por qualquer causa, infarto do miocárdio (IAM), revascularização não planejada ou eventos cerebrovasculares.
Outro estudo, denominado MULTISTARS, também confirmou a não inferioridade da RC imediata versus a estratégia escalonada em pacientes com SCA com elevação do ST. Posteriores metanálises que incluíram ditos estudos mostraram ausência de diferenças significativas em eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE), com uma menor incidência de IAM na estratégia de revascularização completa.
Revascularização completa na síndrome coronariana aguda
O objetivo principal desta análise foi relatar os resultados do acompanhamento de dois anos do estudo BIOVASC. A doença de múltiplos vasos foi definida como a presença de dois ou mais artérias ≥ 2,5 mm de diâmetro com estenose ≥ 70%. No grupo escalonado, a RC foi feita durante a hospitalização inicial ou nas seis semanas posteriores. Foram excluídos os pacientes com revascularização prévia mediante cirurgia (CRM), bem como aqueles com oclusões totais crônicas (CTO) ou choque cardiogênico.
O critério principal de avaliação (CPA) foi o desfecho combinado previamente descrito no estudo BIOVASC. Foram incluídos 1525 pacientes, dentre os quais 97,6% completaram o acompanhamento de dois anos ou apresentaram algum evento. 62,5% das lesões culpadas foram classificadas como tipo B2 ou C segundo os critérios do ACC e da AHA. O escore de SYNTAX basal médio foi de 14, ao passo que o SYNTAX residual ≤ 8 foi alcançado em 92,7% dos pacientes do grupo imediato e em 90,3% do grupo escalonado (p = 0,086).
Em dois anos de acompanhamento não foram observadas diferenças significativas no CPA (HR: 0,98; IC 95%: 0,73-1,30; p = 0,88). Na análise individual dos componentes do CPA tampouco foram encontradas diferenças em termos de mortalidade por qualquer causa (HR: 1,67; IC 95%: 0,88-3,16; p = 0,12) nem de revascularização não planejada (HR: 0,87; IC 95%: 0,60-1,26; p = 0,45). Observou-se, no entanto, uma menor incidência de IAM no grupo de RC imediata (3,8% vs. 6,2%; HR:0,60; IC 95%: 0,37-0,96; p = 0,032).
Tanto as análises por subgrupos pré-especificados quanto as análises landmark confirmaram a ausência de diferenças significativas entre as estratégias avaliadas.
Conclusões: estratégias de revascularização imediata vs. escalonada em SCA
O acompanhamento de dois anos do estudo BIOVASC reafirma os resultados da análise original, demonstrando que não existem diferenças significativas entre a revascularização imediata e a escalonada em pacientes com SCA. Além disso, observou-se uma menor incidência de IAM no grupo de RC imediata.
Título Original: Timing of Complete Multivessel Revascularization in Acute Coronary Syndrome: 2-Year Results of the BIOVASC Study.
Referência: den Dekker WK, Elscot JJ, Bennett J, Schotborgh CE, van der Schaaf R, Sabaté M, Moreno R, Ameloot K, van Bommel R, Forlani D, van Reet B, Esposito G, Dirksen MT, Ruifrok WPT, Everaert BRC, Van Mieghem C, Cummins P, Lenzen M, Brugaletta S, Boersma E, Van Mieghem NM, Diletti R; BIOVASC Investigators. Timing of Complete Multivessel Revascularization in Acute Coronary Syndrome: 2-Year Results of the BIOVASC Study. JACC Cardiovasc Interv. 2024 Dec 23;17(24):2866-2874. doi: 10.1016/j.jcin.2024.09.058. PMID: 39722269.
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