A causa mais comum de necrose miocárdica em pacientes cursando uma infecção por COVID-19 são os microtrombos. No que se refere à composição, tais microtrombos são muito diferentes dos trombos obtidos de um paciente negativo para COVID-19 e dos trombos obtidos dos pacientes infectados que apresentam uma síndrome coronariana aguda.
A injúria miocárdica é comum nos pacientes hospitalizados por COVID-19 e já sabemos que estes pacientes têm um pior prognóstico. Para além de sua frequência, mecanismos e tipo de dano miocárdico relacionado com a COVID-19, a formação de trombos associado à infecção continua sendo objeto de discussão.
Esta foi uma análise patológica sistemática de 40 corações de pacientes que faleceram durante sua hospitalização por COVID-19. Esta análise foi realizada com o objetivo de identificar os mecanismos patológicos por trás da injúria miocárdica.
Os corações foram divididos de acordo com a presença ou ausência de necrose aguda de miócitos e, nestes últimos, buscou-se determinar a causa da necrose.
Dos 40 corações, 14 (35%) tinham evidência de necrose, fundamentalmente no ventrículo esquerdo. Em comparação com os sujeitos sem necrose, aqueles que tinham injúria clara tenderam a ser mais frequentemente mulheres, com insuficiência renal crônica e menor tempo desde o início dos sintomas e a admissão hospitalar.
Leia também: MATRIX: Impacto da mudança de acesso radial a femoral.
A presença de doença coronariana obstrutiva (lesões > 75%) foi similar entre os pacientes com e sem injúria.
Uma pequena porcentagem dos que apresentaram injúria (21,4%) alcançaram a definição microscópica de infarto (necrose em uma área > 1 cm2), ao passo que a enorme maioria restante mostrou focos pequenos e dispersos de necrose.
Os trombos foram encontrados na maioria dos pacientes com necrose (78,6%), mas com uma pequena porcentagem nas artérias epicárdicas (14,2%). No resto dos trombos se localizaram nos capilares, arteríolas e artérias musculares pequenas.
Leia também: TAVI em baixo risco: continua a superioridade, mas perde vantagem após 2 anos.
Os microtrombos dos pacientes com COVID-19 apresentam significativamente mais fibrina e fragmentos terminais do completo C5b-9 em comparação com os trombos intramiocárdicos dos pacientes COVID-19 negativos ou do material aspirado daqueles com infarto com supradesnivelamento do ST convencional (sejam COVID-19 positivos, sejam negativos).
Conclusão
A causa fisiopatológica mais frequente de necrose miocárdica em pacientes que falecem cursando uma infecção por COVID-19 são os microtrombos. Tais microtrombos são diferentes, em termos constitutivos, dos que apresentam os pacientes sem infecção ou daqueles cursando um infarto com supradesnivelamento do ST (estejam eles infectados ou não).
Medidas antitrombóticas sob medida devem ser avaliadas para contrabalançar os efeitos da COVID-19 no coração.
CIRCULATIONAHA-120-051828Título original: Microthrombis As A Major Cause of Cardiac Injury in COVID-19: A Pathologic Study.
Referência: Dario Pellegrini et al. Circulation. 2021 Mar 9;143(10):1031-1042. DOI: 10.1161/CIRCULATIONAHA.120.051828.
Subscreva-se a nossa newsletter semanal
Receba resumos com os últimos artigos científicos