BASILICA, uma estratégia complexa mas segura

A obstrução coronariana após o TAVI é muito pouco frequente mas implica uma mortalidade muito alta (50% ou mais), especialmente após o valve-in-valve (V-in-V) ou quando os óstios das coronárias estão demasiadamente próximos do anel valvar. 

Cortar las valvas, una medida extrema para evitar la oclusión coronaria post TAVI

Por esse motivo, foi desenvolvida a técnica BASILICA (Bioprosthetic or Native Aortic Scallop Intentional Laceration to Prevent Iatrogenic Coronary Artery Obstruction). Contudo, atualmente contamos com pouca informação sobre seus resultados e sobre quais seriam os grupos mais beneficiados pela técnica. 

Foi feita uma análise do registro multicêntrico EURO-BASILICA (realizada entre 2017 e 2021) na qual foram incluídos 76 pacientes e 85 valvas com risco proibitivo para cirurgia e risco de oclusão coronariana (OC). 

O desfecho foi avaliar a factibilidade, eficácia e segurança da técnica BASILICA. 

A idade média dos pacientes foi de 79 anos, 60,5% da população esteve constituída de mulheres, 86% apresentava hipertensão, 19,7% diabetes, 9,2% infarto, 29% CRM, 11,8% doença vascular periférica, 10,5% AVC, 14,5% marca-passo definitivo e 4% insuficiência renal ou diálise. 

O tempo médio de degeneração das biopróteses cirúrgicas foi de 9 (7-11) anos. 

O STS de mortalidade foi de 4,8%, o EuroScore II foi de 4,8 e o EuroSCORE Logístico de 28.

Leia também: Evolute Low Risk em 3 anos, resultados muito alentadores.

A técnica BASILICA foi levada a cabo em biopróteses cirúrgicas (92,1%), em nativas (5,3%) e em válvulas percutâneas (2,6%). 

Os procedimentos foram realizados sob anestesia geral e eco-Doppler transesofágico. 

A técnica foi aplicada em uma única valva em 88.2% dos casos e em duas valvas em 11,8%. O tempo para realizar a técnica foi de 53 (38-77) minutos. 

A válvula utilizada foi a Evolute em 84,2% dos casos e SAPIEN 3 no resto. 

Leia também: PICCOLETO-II: balões eluidores de fármacos em vasos pequenos.

O sucesso técnico foi alcançado em 97,7% das valvas e o sucesso do procedimento em 88,2%. Dois pacientes apresentaram OC e 5 tiveram obstrução parcial; todos eles foram submetidos a angioplastia (ATC) com stent. 

Em 30 dias a sobrevida foi de 98,7% e a maioria dos pacientes se encontrava em CF I-II. Além disso, um paciente apresentou AVC maior, outro apresentou AVC menor e um paciente faleceu por um sangramento maior. A necessidade de marca-passo foi de 4% e nenhum paciente apresentou regurgitação moderada ou severa. A re-hospitalização foi de 8%. 

A sobrevida em um ano foi de 84,2% e 90,5% dos pacientes estavam em classe funcional I-II. Além disso, um paciente apresentou AVC e não houve casos de oclusão coronariana. Nenhum paciente apresentou regurgitação moderada ou severa. 

Leia também: Acesso retrógrado mediante a artéria tibial para o tratamento de oclusões em território femoropoplíteo: será esta uma estratégia segura?

Os preditores de OC foram a idade, as válvulas cirúrgicas senttless e a válvula percutânea em posição de implante elevado. 

Conclusão

O Registro EURO-BASILICA é o primeiro em avaliar a técnica BASILICA na EUROPA. Dita técnica parece ser factível e efetiva na prevenção da oclusão coronariana no TAVI. Com efeito, a evolução foi favorável em um ano de seguimento. São necessários mais estudos para determinar o risco de oclusão coronariana. 

Dr. Carlos Fava - Consejo Editorial SOLACI

Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Procedural and one-year outcomes of the BASILICA technique in Europe: the multicentre BASILICA Registry.

Referência: Mohamed Abdel-Wahab, et al. EuroIntervention 2023;19-online publish-ahead-of-print April 2023. 


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