Perfuração coronária em PCI: associada a resultados desfavoráveis

Gentileza do Dr. Guillermo Migliaro.

 

Perfuração coronária em angioplastia

perfuração coronária (PC) é uma complicação rara, tendo uma incidência estimada de 0,5% entre as intervenções coronárias percutâneas (PCI). A entrada de sangue arterial no espaço pericárdico pode ocasionar uma rápida elevação da pressão intrapericárdica e produzir o colapso das cavidades direitas (tamponamento) com o subsequente comprometimento hemodinâmico.

 

A drenagem era, historicamente, o tratamento cirúrgico padrão para esta complicação. Contudo, o desenvolvimento tecnológico, como os stents recobertos e a embolização com coils, entre outros, permitem que hoje muitas perfurações sejam tratadas na sala de cateterismo.

 

Os casos publicados de perfuração coronária não superam os 1.000 (a maior série tem 124 casos). Dado o baixo número de eventos por série publicados, não foi possível examinar sua real incidência nem os fatores relacionados ou que predispõem a sua aparição nem o resultado obtido nestas intervenções.

 

Para responder a estes interrogantes surge o presente estudo realizado sobre a base de dados da Sociedade Britânica de Intervenções Cardiovasculares, que incluiu 527.121 PCI realizadas na Inglaterra e em Gales entre os anos 2006 e 2013. Os dados foram coletados de forma retrospectiva. Realizou-se análise multivariada e regressão logística de variáveis demográficas e relacionadas com a intervenção na busca de preditores de perfuração coronária e sua associação com o resultado final.

 

Relataram-se 1.762 PC, o que revela uma incidência de 0,33%. Os pacientes com perfuração coronária foram mais frequentemente mulheres e idosos, com maior número de comorbidades (hipertensão, hipercolesterolemia, infarto prévio, doença vascular periférica e disfunção ventricular).

 

A análise multivariada identificou como preditores de perfuração coronária:

  • A idade (OR 1,03; IC 95%,1,02-1,03; p < 0,001).
  • A cirurgia de revascularização prévia (OR 1,44; IC 95%, 1,17-1,77; p < 0,001).
  • A PCI do tronco de coronária esquerda (OR 1,54; IC 95%, 1,21-1.96; p < 0,001).
  • A utilização de aterectomia rotacional (OR 2.37; IC 95%, 1,80-3,11; p < 0,001).
  • As PCI de oclusões crônicas (OR 3,96; IC 95%, 3,28 – 4,78; p < 0,001).

 

Os fatores associados a menor risco de perfuração coronária foram:

  • O sexo masculino.
  • Os pacientes diabéticos.
  • A apresentação com choque cardiogênico.
  • A utilização de cutting balloon.

 

Quanto aos resultados, os eventos cardíacos maiores intra-hospitalares foram mais frequentes no grupo que teve perfuração coronária (26% vs. 2% p < 0,001). Também a mortalidade em 30 dias, em um ano e em 5 anos foi maior neste grupo, assim como os eventos não coronários intra-hospitalares, como o sangramento maior e o AVC. 14% dos pacientes com perfuração coronária apresentaram tamponamento cardíaco e em 3% dos casos foi necessário realizar cirurgia de emergência.

 

Os preditores de mortalidade em 30 dias em pacientes com perfuração coronária foram:

 

  • A idade.
  • Os pacientes com Diabetes Mellitus.
  • Os pacientes com infarto prévio.
  • Os pacientes com insuficiência renal que tiveram necessidade de suporte circulatório ou ventilatório – nos quais foram utilizados inibidores das glicoproteínas IIbIIIa e que receberam stents.

 

Conclusão

A perfuração coronária é uma complicação rara que se associa em grande medida a um resultado desfavorável.

 

Comentário Editorial

O presente trabalho relata a maior série analisada até a data sobre perfuração coronária. O volume da amostra permite analisar os fatores associados à sua apresentação e resultados. Sem dúvida é muito importante conhecer estes dados já que a incidência desta complicação provavelmente torne-se mais frequente à medida que aumente o número de procedimentos e, sobretudo, a complexidade dos mesmos.

 

Por outro lado, este trabalho não contempla mecanismos relacionados com a perfuração coronária (pré-dilatação agressiva, perfurações relacionadas com os cabos-guias, pós-dilatação, etc.) nem com a severidade das mesmas. Também não se analisa com que estratégias intervencionistas foram tratadas nem como estas medidas podem interferir no desfecho final.

 

Gentileza do Dr. Guillermo Migliaro. Hospital Alemão, Buenos Aires, Argentina.

 

Título original: Incidence, Determinants and Outcomes of Coronary Perforation During Percutaneous Coronary Intervention in the United Kingdom Between 2006 and 2013. Analysis of 527121 Cases From the British Cardiovascular Intervention Society Database

Referência: Tim Kinnard et al. Circ Cardiovasc Interv. 2016 Aug;9(8). pii: e003449.

 

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