Filtros carotídeos permanentes em pacientes com fibrilação atrial.

Esta nova estratégia para diminuir o risco de AVC em pacientes com fibrilação atrial é tecnicamente factível e segura, embora ainda tenha que passar na prova do tempo e superar a evidência que têm, por exemplo, os dispositivos de oclusão do apêndice atrial esquerdo. É bem verdade que uns e outros poderiam ser usados simultaneamente, mas seu efeito sinérgico e seu custo ainda não estão definidos.

Filtros carotideos permanentes en pacientes con fibrilación auricular

Os pacientes com alto risco de AVC e fibrilação atrial que não são candidatos a anticoagulantes orais precisam de outras estratégias de prevenção. Estes novos filtros permanentes com desenho de coil são implantados diretamente em ambas as carótidas primitivas e são capazes de capturar êmbolos > 1,4 mm de diâmetro.

O estudo CAPTURE (Carotid Artery Implant for Trapping Upstream Emboli for Preventing Stroke in Atrial Fibrillation Patients) recentemente publicado no J Am Coll Cardiol mostrou, pela primeira vez em humanos, a segurança e factibilidade deste novo dispositivo.

Os pacientes elegíveis deviam ter fibrilação atrial, um escore CHA2DS2-VASc ≥ 2 (insuficiência cardíaca, hipertensão, mais de 75 anos, diabetes, AVC/acidentes isquêmicos transitórios prévios, doença vascular periférica, idade entre 65 e 74 anos, sexo), contraindicação para anticoagulação, diâmetros de carótidas primitivas de entre 4,8 e 9,8 e estenose não superior a 30%.


Leia também: Impacto da reparação endovascular da tricúspide “borda a borda”.


Sob guia ecográfica e depois de punçar diretamente a carótida com uma agulha 24 G, uma unidade motorizada libera o dispositivo. Os pacientes receberam aspirina e clopidogrel por 3 meses e depois somente aspirina.

Os desfechos primários foram: sucesso do procedimento com a liberação adequada de ambos os filtros, eventos maiores após 30 dias (morte, AVC, sangramento maior, migração do filtro, trombo na carótida comum ou estenose significativa).

O seguimento foi feito com ecografia carotídea pós-procedimento, antes da alta, após uma semana, um mês, 3 meses e um ano.

Foram incluídos 25 pacientes neste “first in human” com uma idade de 71 ± 9, um escore CHA2DS2-VASc de 4,4 ± 1 e em 48% estava o antecedente de embolia.


Leia também: Cirurgia para melhorar a sobrevida em insuficiência tricúspide isolada.


Alcançou-se 92% de sucesso (23 de 25 pacientes). Em um paciente a liberação foi unilateral. Não se observaram eventos maiores relacionados ao dispositivo, apenas 20% de edema ou hematomas menores relacionados à punção.

Após 6 meses de seguimento foram detectados trombos assintomáticos em 4 pacientes, em todos os pacientes os trombos se dissolveram com a aplicação de heparina subcutânea.

Um paciente apresentou 2 AVC não relacionados ao dispositivo.

Conclusão

Esta nova e radical solução para os pacientes com fibrilação atrial e contraindicação para anticoagulação parece segura e factível neste trabalho “first in human”.

Título original: Permanent Percutaneous Carotid Artery Filter to Prevent Stroke in Atrial Fibrillation Patients. The CAPTURE Trial.

Referência: Vivek Y. Reddy et al. J Am Coll Cardiol 2019;74:829–39.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

TCT 2024 – SIRONA: estudo randomizado que compara a angioplastia com balão recoberto de fármacos com sirolimus vs. paclitaxel em território femoropoplíteo

Foi levado a cabo um estudo prospectivo, randomizado, multicêntrico, de não inferioridade, iniciado pelo pesquisador, para comparar o uso de balão recoberto com sirolimus...

TCT 2024 | PEERLESS: Trombectomia mecânica com FlowTriever vs. trombólise dirigida por cateter no manejo de TEP de risco intermediário

O tromboembolismo pulmonar (TEP) continua sendo a terceira causa de mortalidade cardiovascular. Os guias clínicos atuais recomendam a anticoagulação (ACO) em pacientes com risco...

Doença renovascular aterosclerótica: revascularizar, sim ou não?

A doença aterosclerótica renovascular pode provocar, a longo prazo, hipertensão arterial (HTA), doença renal crônica (DRC) e insuficiência cardíaca ((IC). Historicamente esses pacientes foram...

Manejo endovascular do TEP crônico: o manejo coronariano é viável nesse cenário?

A hipertensão pulmonar por doença tromboembólica crônica pulmonar (CTEPH) é uma patologia que causa uma elevada limitação funcional. O tratamento cirúrgico conhecido como endarterectomia...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Evolução das válvulas balão-expansíveis pequenas

Os anéis aórticos pequenos (20 mm) têm se constituído em um verdadeiro desafio, tanto em contexto de cirurgia como em implante percutâneo da valva...

TCT 2024 | Estenose aórtica severa assintomática, que conduta devemos adotar?

Aproximadamente 3% da população com mais de 65 anos apresenta estenose aórtica. Os guias atuais recomendam a substituição valvar aórtica em pacientes com sintomas...

TCT 2024 | FAVOR III EUROPA

O estudo FAVOR III EUROPA, um ensaio randomizado, incluiu 2000 pacientes com síndrome coronariana crônica ou síndrome coronariana aguda estabilizada e lesões intermediárias. 1008...