Comparada com os fibrinolíticos, a reperfusão com angioplastia primária é mais confiável, durável e apresenta menos complicações. Isso redunda em um benefício clínico puro maior, tanto em termos de mortalidade quanto de reinfarto e sangramento.
Em meio à pandemia por Covid-19 reinstalou-se a discussão sobre a utilidade dos trombolíticos. Algumas sociedades os têm proposto, inclusive, como primeira opção.
Há muitas razões para considerar que essa não é a estratégia adequada.
- Os fibrinolíticos são inferiores à angioplastia primária no que se refere a conseguir um fluxo TIMI 3. Nestes tempos de pandemia é mais provável, inclusive, que eles sejam administrados mais tardiamente, encontrando assim um trombo mais organizado.
- Devido à alta taxa de reinfarto, a indicação moderna de fibrinolíticos se baseia em uma segunda etapa invasiva que pode ser de emergência no caso de não se conseguir a reperfusão ou de rotina para o tratamento definitivo da placa rota. Em tal contexto, é falsa a vantagem teórica de expor uma menor quantidade de pessoal de saúde e reduzir o consumo de elementos de proteção.
- A síndrome causada pelo Covid-19 pode se manifestar como miopericardite (em oposição à oclusão trombótica) e apresentar também elevação do segmento ST.
A administração de um trombolítico em um paciente cursando uma miopericardite não só não é efetiva mas implica também um risco de sangramento, inclusive maior do que na população não infectada.
Leia também: A favor do uso de trombolíticos em época de pandemia.
As razões mais convincentes para o uso de trombolíticos são a redução da exposição do pessoal de saúde, da demanda de recursos e também do tempo de espera.
Dito problema é facilmente solucionado com o treinamento do pessoal no uso apropriado de todos os elementos de proteção em todas as urgências.
Além disso, as maiores demoras na reperfusão têm sido referidas entre o início dos sintomas e o primeiro contato médico (o que desfavorece os trombolíticos) e não entre o contato médico e o diagnóstico.
Leia também: Manejo dos infartos durante a pandemia de Covid-19.
Décadas de estudos clínicos mostraram-nos a superioridade da angioplastia primária, especialmente quando os pacientes se apresentam tardiamente.
Em circunstâncias excepcionais os trombolíticos podem chegar a ser a única opção, mas a regra deve seguir favorecendo a angioplastia primária.
CIRCOUTCOMES.120.006885Título original: Why Fibrinolytic Therapy for STEMI in the COVID-19 Pandemic is Not Your New Best Friend.
Referência: Ajay J. Kirtane et al. 10.1161/CIRCOUTCOMES.120.006885.
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