Os sangramentos após a alta em pacientes admitidos por uma síndrome coronariana aguda se associam com um incremento da mortalidade por qualquer causa. No entanto, isso é verdadeiro tanto para pacientes submetidos a angioplastia quanto para aqueles que são manejados com tratamento médico.
Os dados aqui apresentados são interessantes, já que é frequente que um alto risco de sangramento incline a balança para o lado do tratamento médico.
A especulação se apoia no fato de que caso a estratégia seja a angioplastia, o sangramento será mais grave, já que o paciente terá recebido antiagregante e, além disso, se for necessário suspendê-la, o risco de trombose também passa a ser alto.
Agora, para além do anteriormente dito, o prognóstico desta população única de pacientes com síndromes coronarianas agudas que recebem tratamento médico e posteriormente apresentam sangramento era quase desconhecido.
O objetivo deste trabalho recentemente publicado no J Am Coll Cardiol foi analisar a associação entre o sangramento após a alta e a mortalidade de acordo com a estratégia na internação índice (angioplastia ou tratamento médico). Concomitantemente foi contrastada a complicação do sangramento vs. infarto.
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As bases de dados de 4 grandes estudos (APPRAISE-2, PLATO, TRACER e TRILOGY ACS) foram analisadas para determinar a associação entre o sangramento após a alta (7 dias após a síndrome coronariana aguda) e a mortalidade.
Do total de 45 011 pacientes, 1133 apresentaram sangramento e 2149 faleceram durante o seguimento.
A mortalidade se elevou significativamente dentro dos 30 dias do sangramento (em até 15 vezes) mas também entre os 30 dias e um ano (quase o triplo) da complicação. Dita associação entre mortalidade e sangramento foi consistente tanto em pacientes que foram submetidos a angioplastia quanto naqueles que receberam tratamento médico (p para a interação = 0,240).
A associação entre sangramento e mortalidade também foi similar à associação entre infarto e mortalidade em ambas as estratégias de tratamento (p para interação = 0,696).
Conclusão
O sangramento após a alta em pacientes admitidos por uma síndrome coronariana aguda se associa com um incremento da mortalidade por qualquer causa e o impacto no prognóstico é similar para ambas as estratégias de tratamento (angioplastia vs. tratamento médico). O impacto no prognóstico de um infarto recorrente é similar ao do sangramento.
Título original: Post-Discharge Bleeding and Mortality Following Acute Coronary Syndromes With or Without PCI.
Referência: Guillaume Marquis-Gravel et al. J Am Coll Cardiol 2020;76:162–71. https://doi.org/10.1016/j.jacc.2020.05.031.
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